sábado, 29 de março de 2014

A Quaresma

Por Daniel Pereira Volpato







Apresentamos aos nossos leitores uma transcrição da explicação do tempo da Quaresma por Dom Beda Keckeisen, OSB, em seu Missal Quotidiano (para a Forma Extraordinária do Rito Romano). Como se trata de um texto voltado mais para a espiritualidade deste tempo litúrgico, mantém-se adequado como preparação para a maior das festas católicas, a Páscoa de Nosso Senhor.

Devido à mudança para o novo Código de Direito Canônico, posterior à data de publicação deste missal, é preciso levar em conta que as normas atuais obrigam o jejum a partir dos 18 anos.



2. O TEMPO DA QUARESMA

1. Significação deste Tempo. Durante estes quarenta dias os Cristãos se unem intimamente aos sofrimentos e à morte do Divino Salvador, a fim de ressuscitarem com Ele para uma vida nova, nas grandes solenidades pascais.

Nos primeiros tempos do Cristianismo esta idéia fundamental achava sua aplicação no Batismo dos catecúmenos e na reconciliação dos penitentes. Por toda a liturgia da Quaresma, a Igreja instruía os pagãos que se preparavam para o Batismo. No Sábado Santo mergulhava-os nas fontes batismais, de onde saíam para uma vida nova, como o Cristo, do túmulo. Por sua vez os fiéis, gravemente culpados, deviam fazer penitência pública e cobrir-se de cinzas (Quarta-feira de Cinzas) para acharem uma vida nova em Jesus Cristo. Convém reparar nestes dois elementos, para compreender a liturgia da Quaresma e a escolha de muitos textos sagrados.



2. Nossa participação neste Tempo. No ofício das Matinas do I domingo, lemos o sermão que o Papa S. Leão Magno, no século V, dirigiu ao povo, explicando a liturgia da Quaresma: "Sem dúvida, diz ele, os Cristãos nunca deveriam perder de vista estes grandes Mistérios... porém, esta virtude é de poucos. É preciso, contudo, que os Cristãos sacudam a poeira do mundo. A sabedoria divina estabeleceu este tempo propício de quarenta dias, a fim de que as nossas almas se pudessem purificar, e por meio de boas obras e jejuns, expiassem as faltas de outros tempos. Inúteis seriam, porém, os nossos jejuns, se neste tempo os nossos corações se não desapegassem do pecado”.

Lendo estas palavras, parece-nos assistir à abertura de um retiro. Com efeito, a Quaresma é o grande retiro anual de toda a família cristã, sob a direção maternal e segundo o método da Santa Igreja. Este retiro terminará pela confissão e comunhão geral de todos os seus filhos, associados assim, realmente, à Ressurreição do Divino Mestre, e ressurgindo por sua vez a uma vida nova.

As práticas exteriores que devem desenvolver em nós o espírito do Cristo e unir-nos a seus sofrimentos, são o jejum, a oração e a esmola.

jejum é imposto pela santa Igreja a todos os fiéis, depois de 21 anos completos até atingirem os 60 anos. Seria um engano pernicioso não reconhecer a utilidade desta mortificação corporal. Seria menosprezar o exemplo do próprio Cristo e pecar gravemente contra a au­toridade de sua Igreja. O prefácio da Quaresma nos descreve os efei­tos salutares do jejum, e aqueles que por motivos justos são dele dispensados não o estarão do jejum espiritual, isto é, de se privarem de festas, teatros, leituras puramente recreativas, etc.

oração. Assim como a palavra jejum abrange todas as mortifi­cações corporais, da mesma maneira compreende a palavra oração todos os exercícios de piedade feitos neste tempo, com um recolhi­mento particular, como sejam: a assistência à santa Missa, a Comu­nhão freqüente, a leitura de bons livros, a meditação especialmente da Paixão de Jesus Cristo, a Via Sacra e a assistência às pregações qua­resmais.

esmola compreende as obras de misericórdia para com o pró­ximo. Já no Antigo Testamento está dito: "Mais vale a oração acompanhada do jejum e da esmola do que amontoar tesouros" (Tob. 12, 8).

Praticando essas obras preparavam-se antigamente os catecúmenos para o Batismo que iam receber no Sábado de Aleluia, enquanto os penitentes públicos se submeteram a elas com espírito de dor e arrependimento de coração.

Saibamos também nós que aquele que não faz penitência perecerá por toda a eternidade (Luc. 13, 3).

Renovemos em nós a graça do Batismo e façamos dignos frutos de penitência. Os textos das Missas, a cada passo nos exortam a isto.

Convém, entretanto, evitar que a nossa piedade seja exercida por compaixão sentimental ou tristeza exagerada. Sim, é um combate, uma morte terrível que vamos contemplar, mas é também, e sobre­tudo, uma vitória, um triunfo. Em verdade assistiremos a uma luta gigantesca do homem novo; ouviremos os seus gemidos, seguiremos os seus passos sangrentos, contaremos todos os seus ossos; mas isso é apenas um episódio de sua vida; o desenlace é um grito de vitória, um canto de triunfo.



3. Particularidades deste Tempo. A cor dos paramentos é a violácea.

Omite-se completamente o Aleluia, e o Glória só se canta nas festas dos Santos. Os altares são despojados dos seus enfeites e o órgão se cala, menos no IV. domingo.

Cada dia deste Tempo tem a sua "estação", com Indulgências especiais e uma liturgia própria, cujos Cânticos e Leituras nos incitam à penitência e à conversão, enquanto as Orações imploram para nós o perdão e a graça.


Ofício das Trevas - Quinta-feira da Semana Santa

Ofício das Trevas

Quinta-feira da Semana Santa




Este ofício é a recitação do Ofício de Leituras combinado com Laudes, na madrugada ou manhã da Quinta-feira da Semana Santa.

Havendo sacerdote ou diácono, ele preside, de acordo com a precedência. Deve vestir vestes corais de acordo com seu estado. Não se usam estolas ou pluviais. Os demais clérigos usam também vestes corais. Se um sacerdote ou diácono presidir, deve haver um cerimoniário e alguns acólitos, com sobrepelizes. Um dos acólitos é o encarregado de extinguir as velas após os salmos. É bom haver um grupo de cantores, para entoar os hinos, as antífonas e os salmos.

Se apenas leigos celebrarem o Ofício, um deles dirigirá, com as adaptações indicadas. Se esses leigos forem seminaristas ou religiosos, usarão veste talar ou hábito, com sobrepeliz.

No centro do local onde se celebra o Ofício das Trevas, preferencialmente no coro antes do presbitério, coloca-se um ambão, de onde se dirá os salmos, leituras e orações. O presbítero sentará na sede, acompanhado de dois diáconos, ou de um diácono e o cerimoniário, ou do cerimoniário e outro acólito, se houver. Sendo o diácono a presidir, senta-se ao seu lado o cerimoniário e outro acólito, se houver. O Bispo senta-se no trono ou no faldistório, de acordo com as regras do Cerimonial dos Bispos.

O candelabro de trevas, constando de quinze velas, é colocado em frente ao altar, à sua direita. Essas velas serão apagadas, aos poucos, durante o rito. Além do candelabro de trevas, seis velas podem estar acesas no altar, como se faz durante a Missa Solene, e serão apagadas durante o Benedictus. Um apagador de velas é colocado perto do candelabro de trevas.

Não se usa cruz processional nem velas processionais ou tochas durante o Ofício das Trevas.

Dando início à celebração, os clérigos em veste coral, cerimoniários, acólitos e cantores ou coro entram em silêncio e reverência, de forma processional, vindo o celebrante por último, e se aproximam do altar. Genuflectem ao Santíssimo Sacramento, ou, em sua falta, inclinam-se profundamente diante do altar, e vão para seus lugares.

Para a extinção de cada vela, o acólito responsável pega o apagador, reverencia o altar e vai ao candelabro para cumprir sua função.

No invitatório, no hino, no Evangelho, no Benedictus, nas preces e na oração, bem como na despedida, todos permanecem de pé. Nos salmos e leituras, permanecem sentados, exceto quem lê ou entoa o salmo. No invitatório, faz-se o sinal-da-cruz na boca, e no Benedictus e na bênção, o grande sinal-da-cruz.



Invitatório

V: † Abri os meus lábios, ó Senhor.
R: E minha boca anunciará vosso louvor.

Salmo 94 (95)
Convite ao louvor de Deus
Animai-vos uns aos outros, dia após dia, enquanto ainda se disser ‘hoje’. (Hb 3,13)

Ant. Cristo por nós foi tentado, sofreu e na Cruz morreu: Vinde todos, adoremos!

Vinde, exultemos de alegria no Senhor; *
aclamemos o rochedo que nos salva.
Ao seu encontro caminhemos com louvores, *
e com cantos de alegria o celebremos!

Ant. Cristo por nós foi tentado, sofreu e na Cruz morreu: Vinde todos, adoremos!

Na verdade, o Senhor é o grande Deus, *
o grande Rei, muito maior que os deuses todos.
Tem nas mãos as profundezas dos abismos, *
e as alturas das montanhas lhe pertencem;
o mar é dele, pois foi ele quem o fez, *
e a terra firme suas mãos a modelaram.

Ant. Cristo por nós foi tentado, sofreu e na Cruz morreu: Vinde todos, adoremos!

Vinde adoremos e protremo-nos por terra, *
e ajoelhemos ante o Deus que nos criou!
Porque ele é o nosso Deus, nosso Pastor,
e nós somos o seu povo e seu rebanho, *
as ovelhas que conduz com sua mão.

Ant. Cristo por nós foi tentado, sofreu e na Cruz morreu: Vinde todos, adoremos!

Oxalá ouvísseis hoje a sua voz: †
"Não fecheis os corações como em Meriba, *
como em Massa, no deserto, aquele dia,
em que outrora vossos pais me provocaram, *
apesar de terem visto as minhas obras. "

Ant. Cristo por nós foi tentado, sofreu e na Cruz morreu: Vinde todos, adoremos!

Quarenta anos desgostou-me aquela raça, †
e eu dise: "Eis um povo transviado, *
seu coração não conheceu os meus caminhos!"
E por isso lhes jurei na minha ira: *
"Não entrarão no meu repouso prometido! "

Ant. Cristo por nós foi tentado, sofreu e na Cruz morreu: Vinde todos, adoremos!

Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo, *
Como era no princípio, agora e sempre. Amém.

Ant. Cristo por nós foi tentado, sofreu e na Cruz morreu: Vinde todos, adoremos!

Ofício de Leituras


1 Cantem meus lábios a luta
que sobre a cruz se travou;
cantem o nobre triunfo
que no madeiro alcançou
o Redentor do Universo
quando por nós se imolou.

2 O Criador teve pena
do primitivo casal,
que foi ferido de morte,
comendo o fruto fatal,
e marcou logo outra árvore,
para curar-nos do mal.

3 Tal ordem foi exigida
na obra da salvação:
cai o inimigo no laço
de sua própria invenção.
Do próprio lenho da morte
Deus fez nascer redenção.

4 Na plenitude dos tempos,
a hora santa chegou
e, pelo Pai enviado,
nasceu do mundo o autor;
e duma Virgem no seio
a nossa carne tomou.

5 Seis lustros tendo passado,
cumpriu a sua missão.
Só para ela nascido,
livre se entrega à Paixão.
Na cruz se eleva o Cordeiro,
como perfeita oblação.

6 Glória e poder à Trindade.
Ao Pai e ao Filho, louvor.
Honra ao Espírito Santo.
Eterna glória ao Senhor,
que nos salvou pela graça
e nos remiu pelo amor. Amém.


Ant. 1 Estou cansado de gritar e de esperar pelo meu Deus


Salmo 68(69),2-22.30-37
O zelo pela vossa casa me devora
Deram vinho misturado com fel para Jesus beber. (Mt 27,34)

I

Salvai-me, ó meu Deus, porque as águas *
até o meu pescoço já chegaram!
Na lama do abismo eu me afundo *
e não encontro um apoio para os pés.
Nestas águas muito fundas vim cair, *
e as ondas já começam a cobrir-me!

À força de gritar, estou cansado; *
minha garganta já ficou enrouquecida.
Os meus olhos já perderam sua luz, *
de tanto esperar pelo meu Deus!

Mais numerosos que os cabelos da cabeça, *
são aqueles que me odeiam sem motivo;
meus inimigos são mais fortes do que eu; *
contra mim eles se voltam com mentiras!

Por acaso poderei restituir *
alguma coisa que de outros não roubei?
Ó Senhor, vós conheceis minhas loucuras, *
e minha falta não se esconde a vossos olhos.

Por minha causa não deixeis desiludidos *
os que esperam sempre em vós, Deus do universo!
Que eu não seja a decepção e a vergonha *
dos que vos buscam, Senhor Deus de Israel!

Por vossa causa é que sofri tantos insultos, *
e o meu rosto se cobriu de confusão;
eu me tornei como um estranho a meus irmãos, *
como estrangeiro para os filhos de minha mãe.

Pois meu zelo e meu amor por vossa casa *
me devoram como fogo abrasador;
e os insultos de infiéis que vos ultrajam *
recaíram todos eles sobre mim!

Se aflijo a minha alma com jejuns, *
fazem disso uma razão para insultar-me;
se me visto com sinais de penitência, *
eles fazem zombaria e me escarnecem!
Falam de mim os que se assentam junto às portas, *
sou motivo de canções, até de bêbados!

Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo, *
Como era no princípio, agora e sempre. Amém.

Ant. Estou cansado de gritar e de esperar pelo meu Deus 
Apagam-se as duas velas mais ao extremo do candelabro de trevas.

Ant. 2 Deram-me fel como se fosse um alimento, em minha sede ofereceram-me vinagre.

II

Por isso elevo para vós minha oração, *
neste tempo favorável, Senhor Deus!
Respondei-me pelo vosso imenso amor, *
pela vossa salvação que nunca falha!

Retirai-me deste lodo, pois me afundo! †
Libertai-me, ó Senhor, dos que me odeiam, *
e salvai-me destas águas tão profundas!
Que as águas turbulentas não me arrastem, †
não me devorem violentos turbilhões, *
nem a cova feche a boca sobre mim!

Senhor, ouvi-me pois suave é vossa graça, *
ponde os olhos sobre mim com grande amor!
Não oculteis a vossa face ao vosso servo! *
Como eu sofro! Respondei-me bem depressa!
Aproximai-vos de minh’alma e libertai-me, *
apesar da multidão dos inimigos!

Vós conheceis minha vergonha e meu opróbrio, †
minhas injúrias, minha grande humilhação; *
os que me afligem estão todos ante vós!
O insulto me partiu o coração; *
não suportei, desfaleci de tanta dor!

Eu esperei que alguém de mim tivesse pena, †
mas foi em vão, pois a ninguém pude encontrar; *
procurei quem me aliviasse e não achei!
Deram-me fel como se fosse um alimento, *
em minha sede ofereceram-me vinagre!

Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo, *
Como era no princípio, agora e sempre. Amém.

Ant. Deram-me fel como se fosse um alimento, em minha sede ofereceram-me vinagre.

Apagam-se as duas velas seguintes em direção ao centro do candelabro de trevas.

Ant. 3 Procurai o Senhor continuamente, e o vosso coração reviverá.

III

Pobre de mim, sou infeliz e sofredor! *
Que vosso auxílio me levante, Senhor Deus!
Cantando eu louvarei o vosso nome *
e agradecido exultarei de alegria!
Isto será mais agradável ao Senhor, *
que o sacrifício de novilhos e de touros.

Humildes, vede isto e alegrai-vos: †
o vosso coração reviverá, *
se procurardes o Senhor continuamente!

Pois nosso Deus atende à prece dos seus pobres, *
e não despreza o clamor de seus cativos.
Que céus e terra glorifiquem o Senhor *
com o mar e todo ser que neles vive!

Sim, Deus virá e salvará Jerusalém, †
reconstruindo as cidades de Judá, *
onde os pobres morarão, sendo seus donos.
A descendência de seus servos há de herdá-las, †
e os que amam o santo nome do Senhor *
dentro delas fixarão sua morada!

Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo, *
Como era no princípio, agora e sempre. Amém.

Ant. Procurai o Senhor continuamente, e o vosso coração reviverá.

Apagam-se as duas velas seguintes em direção ao centro do candelabro de trevas.

V. Quando eu for elevado da terra,
R. Atrairei para mim todo ser.



PRIMEIRA LEITURA


Da Carta aos Hebreus 4,14–5,10
Jesus Cristo, sumo sacerdote

Irmãos: Temos um sumo-sacerdote eminente, que entrou no céu, Jesus, o Filho de Deus. Por isso, permaneçamos firmes na fé que professamos. Com efeito, temos um sumo-sacerdote capaz de se compadecer de nossas fraquezas, pois ele mesmo foi provado em tudo como nós, com exceção do pecado. Aproximemo-nos então, com toda a confiança, do trono da graça, para conseguirmos misericórdia e alcançarmos a graça de um auxílio no momento oportuno.

De fato, todo o sumo sacerdote é tirado do meio dos homens e instituído em favor dos homens nas coisas que se referem a Deus, para oferecer dons e sacrifícios pelos pecados. Sabe ter compaixão dos que estão na ignorância e no erro, porque ele mesmo está cercado de fraqueza. Por isso, deve oferecer sacrifícios tanto pelos pecados do povo, quanto pelos seus próprios. Ninguém deve atribuir-se esta honra, senão o que foi chamado por Deus, como Aarão.

Deste modo, também Cristo não se atribuiu a si mesmo a honra de ser sumo-sacerdote, mas foi aquele que lhe disse: “Tu és o meu Filho, eu hoje te gerei”. Como diz em outra passagem: “Tu és sacerdote para sempre, na ordem de Melquisedec.”

Cristo, nos dias de sua vida terrestre, dirigiu preces e súplicas, com forte clamor e lágrimas, àquele que era capaz de salvá-lo da morte. E foi atendido, por causa de sua entrega a Deus. Mesmo sendo Filho, aprendeu o que significa a obediência a Deus por aquilo que ele sofreu. Mas, na consumação de sua vida, tornou-se causa de salvação eterna para todos os que lhe obedecem. De fato, ele foi por Deus proclamado sumo-sacerdote na ordem de Melquisedec.

RESPONSÓRIO Cf. Hb 5,8.9.7

R. Embora fosse o próprio Filho, aprendeu a obediência através do sofrimento * E para quem lhe obedece tornou-se uma fonte de eterna salvação.
V. Nos seus dias deste mundo fez subir preces e súplicas com clamores veementes e por sua piedade Jesus foi atendido. * E para quem lhe obedece tornou-se uma fonte de eterna salvação.

Apaga-se a próxima vela, à esquerda, no candelabro de trevas.

SEGUNDA LEITURA

Da Homilia sobre a Páscoa, de Melitão de Sardes, bispo
(N. 65-71: SCh 123,94-100)
(Séc. II)
O Cordeiro imolado libertou-nos da morte para a vida

Muitas coisas foram preditas pelos profetas sobre o mistério da Páscoa, que é Cristo, a quem seja dada a glória pelos séculos dos séculos. Amém (Gl 1,5). Ele desceu dos céus à terra para curar a enfermidade do homem; revestiu-se da nossa natureza no seio da Virgem e se fez homem; tomou sobre si os sofrimentos do homem enfermo num corpo sujeito ao sofrimento, e destruiu as paixões da carne; seu espírito, que não pode morrer, matou a morte homicida.

Foi levado como cordeiro e morto como ovelha; libertou-nos das seduções do mundo, como outrora tirou os israelitas do Egito; salvou-nos da escravidão do demônio, como outrora fez sair Israel das mãos do faraó; marcou nossas almas com o sinal do seu Espírito e os nossos corpos com seu sangue.

Foi ele que venceu a morte e confundiu o demônio, como outrora Moisés ao faraó. Foi ele que destruiu a iniqüidade e condenou a injustiça à esterilidade, como Moisés ao Egito.

Foi ele que nos fez passar da escravidão para a liberdade, das trevas para a luz, da morte para a vida, da tirania para o reino sem fim, e fez de nós um sacerdócio novo, um povo eleito para sempre. Ele é a Páscoa da nossa salvação.

Foi ele que tomou sobre si os sofrimentos de muitos: foi morto em Abel; amarrado de pés e mãos em Isaac; exilado de sua terra em Jacó; vendido em José; exposto em Moisés; sacrificado no cordeiro pascal; perseguido em Davi e ultrajado nos profetas.

Foi ele que se encarnou no seio da Virgem, foi suspenso na cruz, sepultado na terra e, ressuscitando dos mortos, subiu ao mais alto dos céus.

Foi ele o cordeiro que não abriu a boca, o cordeiro imolado, nascido de Maria, a bela ovelhinha; retirado do rebanho, foi levado ao matadouro, imolado à tarde e sepultado à noite; ao ser crucificado, não lhe quebraram osso algum, e ao ser sepultado, não experimentou a corrupção; mas ressuscitando dos mortos, ressuscitou também a humanidade das profundezas do sepulcro.

RESPONSÓRIO Rm 3,23-25a; Jo 1,29b

R. Pois todos os homens pecaram e carecem da glória de Deus, sendo justificados, de graça, mediante a libertação, realizada por meio de Cristo. * Deus destinou que Cristo fosse, por seu sangue, a vítima da propiciação, pela fé que colocamos nele mesmo.
V. Eis aqui o Cordeiro de Deus, o que tira o pecado do mundo. * Deus destinou que Cristo fosse, por seu sangue, a vítima da propiciação, pela fé que colocamos nele mesmo.

Apaga-se a próxima vela, à direita, no candelabro de trevas.

Laudes


Ant. 1 Olhai, Senhor, e contemplai meu sofrimento! Escutai-me e vinde logo em meu auxílio!

Salmo 79(80)
Visitai, Senhor, a vossa vinha
Vinde, Senhor Jesus! (Ap 22,20)

Ó Pastor de Israel, prestai ouvidos. *
Vós, que a José apascentais qual um rebanho!
Vós, que sobre os querubins vos assentais, †
aparecei cheio de glória e esplendor *
ante Efraim e Benjamim e Manassés!
Despertai vosso poder, ó nosso Deus, *
e vinde logo nos trazer a salvação!

Convertei-nos, ó Senhor Deus do universo, †
e sobre nós iluminai a vossa face! *
Se voltardes para nós, seremos salvos!

Até quando, ó Senhor, vos irritais, *
apesar da oração do vosso povo?
Vós nos destes a comer o pão das lágrimas, *
e a beber destes um pranto copioso.
Para os vizinhos somos causa de contenda, *
de zombaria para os nossos inimigos.

Convertei-nos, ó Senhor Deus do universo, †
e sobre nós iluminai a vossa face! *
Se voltardes para nós, seremos salvos!

Arrancastes do Egito esta videira, *
e expulsastes as nações para plantá-la;
diante dela preparastes o terreno, *
lançou raízes e encheu a terra inteira.

Os montes recobriu com sua sombra, *
e os cedros do Senhor com os seus ramos;
até o mar se estenderam seus sarmentos, *
até o rio os seus rebentos se espalharam.

Por que razão vós destruístes sua cerca, *
para que todos os passantes a vindimem,
o javali da mata virgem a devaste, *
e os animais do descampado nela pastem?

Voltai-vos para nós, Deus do universo! †
Olhai dos altos céus e observai. *
Visitai a vossa vinha e protegei-a!

Foi a vossa mão direita que a plantou; *
protegei-a, e ao rebento que firmastes!
E aqueles que a cortaram e a queimaram, *
vão perecer ante o furor de vossa face.

Pousai a mão por sobre o vosso Protegido, *
o filho do homem que escolhestes para vós!
–E nunca mais vos deixaremos, Senhor Deus! *
Dai-nos vida, e louvaremos vosso nome!

Convertei-nos, ó Senhor Deus do universo, †
e sobre nós iluminai a vossa face! *
Se voltardes para nós, seremos salvos!

Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo, *
Como era no princípio, agora e sempre. Amém.

Ant. 1 Olhai, Senhor, e contemplai meu sofrimento! Escutai-me e vinde logo em meu auxílio!

Apagam-se as duas velas seguintes em direção ao centro do candelabro de trevas.

Ant. 2 Eis o Deus, meu Salvador, eu confio e nada temo!

Cântico Is 12,1-6
Exultação do povo redimido
Se alguém tem sede, venha a mim, e beba. (Jo 7,37)

Dou-vos graças, ó Senhor, porque estando irritado, *
acalmou-se a vossa ira e enfim me consolastes.
Eis o Deus, meu Salvador, eu confio e nada temo; *
o Senhor é minha força, meu louvor e salvação.

Com alegria bebereis no manancial da salvação, *
e direis naquele dia: “Dai louvores ao Senhor,
invocai seu santo nome, anunciai suas maravilhas, *
entre os povos proclamai que seu nome é o mais sublime.

Louvai cantando ao nosso Deus, que fez prodígios e portentos, *
publicai em toda a terra suas grandes maravilhas!
Exultai cantando alegres, habitantes de Sião, *
porque é grande em vosso meio o Deus Santo de Israel!”

Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo, *
Como era no princípio, agora e sempre. Amém.

Ant. 2 Eis o Deus, meu Salvador, eu confio e nada temo!

Apagam-se as duas velas seguintes em direção ao centro do candelabro de trevas.

Ant. 3 Deus nos deu de comer a flor do trigo, e com o mel que sai da rocha nos fartou.

Salmo 80(81)
Solene renovação da Aliança
Cuidai, irmãos, que não se ache em algum de vós um coração transviado pela incredulidade. (Hb 3,12)

Exultai no Senhor, nossa força, *
e ao Deus de Jacó aclamai!
Cantai salmos, tocai tamborim, *
harpa e lira suaves tocai!
Na lua nova soai a trombeta, *
na lua cheia, na festa solene!

Porque isto é costume em Jacó, *
um preceito do Deus de Israel;
uma lei que foi dada a José, *
quando o povo saiu do Egito.

Eis que ouço uma voz que não conheço: †
“Aliviei as tuas costas de seu fardo, *
cestos pesados eu tirei de tuas mãos.
Na angústia a mim clamaste, e te salvei, †
de uma nuvem trovejante te falei, *
e junto às águas de Meriba te provei.

Ouve, meu povo, porque vou te advertir! *
Israel, ah! se quisesses me escutar:
Em teu meio não exista um deus estranho *
nem adores a um deus desconhecido!

Porque eu sou o teu Deus e teu Senhor, †
que da terra do Egito te arranquei. *
Abre bem a tua boca e eu te sacio!

Mas meu povo não ouviu a minha voz, *
Israel não quis saber de obedecer-me.
Deixei, então, que eles seguissem seus caprichos, *
abandonei-os ao seu duro coração.

Quem me dera que meu povo me escutasse! *
Que Israel andasse sempre em meus caminhos!
Seus inimigos, sem demora, humilharia *
e voltaria minha mão contra o opressor.

Os que odeiam o Senhor, o adulariam, *
seria este seu destino para sempre;
eu lhe daria de comer a flor do trigo, *
e com o mel que sai da rocha o fartaria”.

Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo, *
Como era no princípio, agora e sempre. Amém.

Ant. 3 Deus nos deu de comer a flor do trigo, e com o mel que sai da rocha nos fartou.

Apagam-se as duas velas seguintes em direção ao centro do candelabro de trevas.




LEITURA BREVE Hb 2, 9b-10

Vemos Jesus coroado de glória e honra, por ter sofrido a morte. Sim, pela graça de Deus em favor de todos, ele provou a morte. Convinha de fato que aquele, por quem e para quem todas as coisas existem, e que desejou conduzir muitos filhos à glória, levasse o iniciador da salvação deles à consumação, por meio de sofrimentos.


V. Lembra-te de Cristo, ressuscitado dentre os mortos! * Ele é nossa salvação e nossa glória para sempre.
R. Lembra-te de Cristo, ressuscitado dentre os mortos! Ele é nossa salvação e nossa glória para sempre.
V. Se com ele nós morremos, também, com ele viveremos.
R. Ele é nossa salvação e nossa glória para sempre. 
V. Glória ao Pai, e ao Filho e ao Espírito Santo.
R. Lembra-te de Cristo, ressuscitado dentre os mortos! Ele é nossa salvação e nossa glória para sempre.

BENEDICTUS Lc 1, 68-79

Durante o Benedictus, se houver as seis velas do altar, o acólito responsável por apagá-las, munido do apagador, dirige-se ao altar, faz a inclinação profunda, e procede à cerimônia. A partir do sexto verso, ele vai à extrema esquerda do altar, e apaga essa vela. Depois, vai à extrema direita, para apagar a vela correspondente. Volta, então, à esquerda, para apagar a próxima, e, então, à direita, e assim por diante, de modo a apagar todas as seis velas nos últimos seis versos. Feita a cerimônia, inclina-se profundamente ao altar, e volta ao seu lugar.

Ant. Ardentemente eu desejei comer convosco esta Páscoa antes de ir sofrer a morte.

Bendito seja o Senhor Deus de Israel, *
que a seu povo visitou e libertou;
e fez surgir um poderoso Salvador *
na casa de Davi, seu servidor,
como falara pela boca de seus santos, *
os profetas desde os tempos mais antigos,
para salvar-nos do poder dos inimigos *
e da mão de todos quantos nos odeiam.
Assim mostrou misericórdia a nossos pais, *
recordando a sua santa Aliança
e o juramento a Abraão, o nosso pai, *
de conceder-nos  que, libertos do inimigo,
a ele nós sirvamos sem temor †
em santidade e em justiça diante dele, *
enquanto perdurarem nossos dias.
Serás profeta do Altíssimo, ó menino, †
pois irás andando à frente do Senhor *
para aplainar e preparar os seus caminhos,
anunciando ao seu povo a salvação, *
que está na remissão de seus pecados.
Pelo amor do coração de nosso Deus, *
Sol nascente que nos veio visitar
lá do alto como luz resplandecente *
a iluminar a quantos jazem entre as trevas
e na sombra da morte estão sentados †
e para dirigir os nossos passos, *
guiando-nos no caminho da paz.
Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo. *
Como era no princípio, agora e sempre. Amém.

Ant. Ardentemente eu desejei comer convosco esta Páscoa antes de ir sofrer a morte.


A Cristo, eterno sacerdote, a quem o Pai ungiu com o Espírito Santo para anunciar aos cativos a libertação, supliquemos humildemente; e digamos:
Senhor, tende piedade de nós!

Vós, que subistes a Jerusalém para sofrer a Paixão, e assim entrar na glória,
conduzi vossa Igreja à Páscoa da eternidade.
Senhor, tende piedade de nós!

Vós, que, elevado na cruz, deixastes a lança do soldado vos traspassar,
curai as nossas feridas.
Senhor, tende piedade de nós!

Vós, que transformastes o madeiro da cruz em árvore da vida,
concedei de seus frutos aos que renasceram pelo batismo.
Senhor, tende piedade de nós!

Vós que, pregado na cruz, perdoastes o ladrão arrependido,
perdoai-nos também a nós pecadores.
Senhor, tende piedade de nós!

Pai nosso que estais nos céus,
santificado seja o vosso nome;
venha a nós o vosso reino,
seja feita a vossa vontade,
assim na terra como no céu;
o pão nosso de cada dia nos dai hoje;
perdoai-nos as nossas ofensas,
assim como nós perdoamos
a quem nos tem ofendido,
e não nos deixeis cair em tentação,
mas livrai-nos do mal.



Senhor nosso Deus, amar-vos acima de tudo é ser perfeito; multiplicai em nós a vossa graça e concedei, aos que firmamos nossa esperança na morte do vosso Filho, alcançarmos por sua ressurreição aqueles bens que na fé buscamos. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
R. Amém.

Se um sacerdote ou diácono preside o Ofício, é ele quem despede o povo, dizendo:
V. O Senhor esteja convosco.
R. Ele está no meio de nós.
V. Abençoe-vos Deus todo-poderoso, Pai e Filho e Espírito Santo.
R. Amém.

Dada a bênção, acrescenta-se:
V. Ide em paz e o Senhor vos acompanhe.
R. Graças a Deus.

Não havendo sacerdote, ou diácono, e na recitação individual, conclui-se assim:
O Senhor nos abençoe, nos livre de todo o mal e nos conduza à vida eterna.
R. Amém.

Faz-se o strepitus com um pedaço de madeira ou o breviário, significando o terremoto ocorrido na morte de Jesus. Os demais podem juntar-se ao strepitus com seus breviários. Apaga-se a última vela do candelabro de trevas.


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