sexta-feira, 4 de novembro de 2011

O professor e as evoluções tecnológicas

no ensino presencial

Artigo publicado na newsletter semanal +Educação
Revista Profissão Mestre: www.profissaomestre.com.br
04/11/2011






Como membro da meia idade, nascido no final dos anos 1960, eu fui educado em uma época com poucas informações, as quais eram obtidas através dos poucos jornais televisivos e da mídia impressa. Entre assistir a televisão e jogar bola, a segunda opção era sempre a preferida. Até por estas escolhas, éramos ingênuos, inocentes e pouco informados sobre o que se passava ao nosso redor, o qual se limitava ao perímetro da rua ou da vizinhança.
Hoje tudo mudou. Com um ano e meio ou dois, a criança já se inicia no mundo tecnológico através dos controles remotos da televisão, do vídeo e da TV a cabo, tendo a sua disposição dezenas de canais infantis a qualquer hora. Aos seis ou sete anos, já dominam diversas tecnologias, em alguns casos ensinando seus pais ou avós. Crescem com o mundo na ponta dos dedos, fazendo amigos em redes sociais, conversando em chats e enviando mensagens via SMS. Não hesitam em escolher o computador à rua ou à bicicleta.
Neste novo cenário, o professor tem um novo papel, não menos relevante, porém totalmente diferente. O docente deixa de ser a autoridade em sala de aula, uma vez que não é mais o detentor único das informações. Imagine que tarefa maçante para o aluno decorar ou copiar a definição de um conceito, quando este pode ser encontrado no “doutor Google”, segmentado por autores, épocas ou escolas. Entra em cena o trabalho conjunto, no qual professor e aluno trabalham em sua construção, através de metodologias como a geração de ideias ou brainstorming, mesclando com exemplos sua aplicação em casos práticos.
O que dizer então de uma aula expositiva de noventa minutos? Nem o mais compenetrado dos alunos será capaz de permanecer atento após o final do primeiro tempo. Tente lembrar-se de todos os lances da partida de seu time do coração. Esta tarefa se torna ainda mais impossível a uma geração que está habituada a fazer diversas atividades ao mesmo tempo. Incentivar a participação dos alunos, solicitando que compartilhem suas experiências, faz com que consigam fazer a ponte entre teoria e prática. Faço, porém, uma observação: a troca necessita ser verdadeira, respeitando eventuais diferenças de janela, ajudando o aluno a construir sobre sua experiência.
Outra grande barreira entre as gerações está nos canais de transmissão das informações. Há ainda muitos professores que têm antipatia às novas ferramentas disponibilizadas pela web e pelas universidades, tais como portais on-line, nos quais há a possibilidade de postagem de trabalhos, criação de grupos de discussão, conteúdos interativos, só para citar algumas aplicações.
Nada contra o método tradicional dos trabalhos em folha de caderno, porém não aproveitar os recursos hoje disponíveis pode sugerir aos alunos uma postura ultrapassada e conservadora. Por fim, o conhecimento compartimentado é outra grande dificuldade de professores e alunos. Aprendemos desde a mais tenra idade a estudar as matérias separadamente. História, Geografia, Química, Biologia, Matemática e Português. Ao ingressar na universidade – como num curso de Administração – o aluno ainda precisa virar a chave entre as aulas: recursos humanos, finanças, marketing, produção.
Não obstante algumas iniciativas para a criação de matérias interdisciplinares, o conhecimento é ainda, em grande parte, colocado em caixas. Há alguns programas de graduação e pós-graduação na área de negócios que têm utilizado, com sucesso, simuladores de treinamento, através dos quais os alunos conseguem ter uma visão integrada do negócio, tomando decisões como se estivessem atuando na vida real, fazendo a ligação entre as diversas disciplinas.
Enfim, estamos em uma nova era e com novos alunos. Fazer com que consigam manter o interesse e a motivação na sala de aula é tarefa exclusiva das escolas e principalmente dos professores, os quais precisam estar constantemente aprendendo novas técnicas e métodos de ensino. Aliás, este é um dos desafios mais interessantes e motivadores da carreira de professor, os quais têm o privilégio de poder inovar a cada aula, a cada interação, a cada curso. Como mestres, temos o papel de influenciar, conduzir e motivar. Neste cenário, discussões são possíveis e incentivadas, ou pelo menos deveriam.



Autor: Marcos Morita é mestre em Administração de Empresas, professor da Universidade Mackenzie (RJ) e professor tutor da FGV (RJ).

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