sábado, 12 de novembro de 2011

Geração facilitada

Artigo publicado na newsletter semanal +Educação
Revista Profissão Mestre: www.profissaomestre.com.br
12/11/2011





O termo “geração facilitada” tenta traduzir um pouco da realidade dos jovens de classe média brasileira que têm a vida muito mais facilitada que a de seus pais, que ainda trabalham para tentar lhes oferecer melhores condições, boas escolas, vários cursos e intercâmbios.
Em seu artigo “Meu filho, você não merece nada”, a jornalista e escritora Eliane Brum comenta que “há uma geração de classe média que estudou em bons colégios, é fluente em outras línguas, viajou para o exterior e teve acesso à cultura e à tecnologia. Uma geração que teve muito mais do que seus pais. Ao mesmo tempo, cresceu com a ilusão de que a vida é fácil. Ou que já nascem prontos – bastaria apenas que o mundo reconhecesse a sua genialidade.”
Chamo de geração facilitada porque acabam tendo tudo na mão e não existe um estímulo para conquista. Já têm o celular, computador, iPod, carro, conforto e mais um pouco. O que resta na conquista?
Com relação à escolha da profissão, percebemos uma dificuldade na seleção do curso e muita expectativa quanto ao primeiro emprego. Não querem submeter-se a cargos de estagiários em empresas pouco promissoras. Desejam experiências mais atraentes em termos de salários e reconhecimento.
Talvez escolham uma carreira pela “onda” do momento: relações internacionais, petróleo, turismo, tecnologia – áreas altamente promissoras. Só que, na maioria dos casos, a escolha não está ligada ao seu perfil. Buscam uma realização pessoal e acabam perdendo o foco da realização do grupo, porque, numa organização, o que conta é o sucesso da equipe, da empresa como um todo, não apenas de um único talento (qualquer semelhança com a Seleção Brasileira de futebol é pura coincidência).
Foram ensinados a superar desafios sozinhos e agora precisam aprender a compartilhar conhecimento e melhorar os relacionamentos. Expõem todos os desejos nas redes sociais e querem compreensão desse novo universo. Um desafio para todos que estão envolvidos com o processo da sua educação: professores e recrutadores que passam pela difícil tarefa de desenvolver habilidades com essa turma de nativos digitais, enquanto nós ainda estamos aprendendo sobre esse mundo. Bela troca, não?
Acredito ser assim que a sociedade vai se ajustando, a cada novo momento, novas oportunidades. A realidade será aquilo que nós mesmos inventarmos.

Autora:
Leticia Bechara é mestre em Educação e coordenadora do vestibular da Trevisan Escola de Negócios, de São Paulo (SP).

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Ponto de exclamação

Fragmento de uma postagem do Zeca Camargo em 20/10/11






Sei que eu mesmo sou mestre em abusar dessa pontuação. Acho que é um tique meu! Sempre coloquei esse sinal em tudo quanto é texto que eu escrevo. Mas – você vai concordar – nunca as pessoas escreveram com tanta ênfase na exclamação. Com as mensagens cada vez mais curtas, parece que todo mundo agora precisa dar ainda mais intensidade ao que diz. Gostou de um filme? Adorei!!!!!!!!!! E o show do Guns? O melhor!!!!!!!!!!!! E a festa de ontem? O bicho!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! A piada que eu twitei? Kkkkkkkkkkkkkkk!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Mas nessa onda de exageros, é interessante observar que às vezes basta apenas uma exclamação para chamar a sua atenção. Tão preocupados estamos sempre em dar a dimensão da nossa intenção nessas mensagens rápidas, que nos esquecemos que o que conta mesmo é o que vem antes da exclamação. Caso em questão: os artistas que participam da exposição “Em nome dos artistas”, atualmente em cartaz no Pavilhão da Bienal, no Parque do Ibirapuera, em São Paulo. Nos cartazes e em toda a programação gráfica da mostra os nomes dos convidados vêm seguidos de uma simples exclamação. Basta isso!
Estou para falar disso já há alguns dias, desde que visitei a mostra na semana de sua abertura. Outros assuntos acabaram entrando na frente, mas aqueles pontos de exclamação não me saem da cabeça – quem sabe agora, já que eu vou tentar te convencer a ir até lá. Ao fazer esse convite, sei bem que estou sendo injusto com quem não mora em São Paulo, ou não tem a facilidade de passar pela cidade até o início de dezembro (quando ela se encerra). Mas é que, ao contrário de outros eventos culturais que eu costumo mostrar aqui (filmes, música, TV), arte tem essa “coisa chata” de se deslocar pouco. Na verdade, é a gente que tem de ir até ela. Dá trabalho, eu sei. Eu mesmo já cheguei a fazer loucuras, apenas para ver “a última loucura” de um artista que eu gostava bem – como foi o caso, em julho de 2008, das cataratas artificiais de Olafur Eliasson em Nova York (artista este que, aliás, também ganha agora uma exposição em São Paulo – sobre a qual pretendo escrever assim que conseguir visitar). Então quem sabe você não se anima?



Escrito por Zeca Camargo

http://g1.globo.com/platb/zecacamargo/

O professor e as evoluções tecnológicas

no ensino presencial

Artigo publicado na newsletter semanal +Educação
Revista Profissão Mestre: www.profissaomestre.com.br
04/11/2011






Como membro da meia idade, nascido no final dos anos 1960, eu fui educado em uma época com poucas informações, as quais eram obtidas através dos poucos jornais televisivos e da mídia impressa. Entre assistir a televisão e jogar bola, a segunda opção era sempre a preferida. Até por estas escolhas, éramos ingênuos, inocentes e pouco informados sobre o que se passava ao nosso redor, o qual se limitava ao perímetro da rua ou da vizinhança.
Hoje tudo mudou. Com um ano e meio ou dois, a criança já se inicia no mundo tecnológico através dos controles remotos da televisão, do vídeo e da TV a cabo, tendo a sua disposição dezenas de canais infantis a qualquer hora. Aos seis ou sete anos, já dominam diversas tecnologias, em alguns casos ensinando seus pais ou avós. Crescem com o mundo na ponta dos dedos, fazendo amigos em redes sociais, conversando em chats e enviando mensagens via SMS. Não hesitam em escolher o computador à rua ou à bicicleta.
Neste novo cenário, o professor tem um novo papel, não menos relevante, porém totalmente diferente. O docente deixa de ser a autoridade em sala de aula, uma vez que não é mais o detentor único das informações. Imagine que tarefa maçante para o aluno decorar ou copiar a definição de um conceito, quando este pode ser encontrado no “doutor Google”, segmentado por autores, épocas ou escolas. Entra em cena o trabalho conjunto, no qual professor e aluno trabalham em sua construção, através de metodologias como a geração de ideias ou brainstorming, mesclando com exemplos sua aplicação em casos práticos.
O que dizer então de uma aula expositiva de noventa minutos? Nem o mais compenetrado dos alunos será capaz de permanecer atento após o final do primeiro tempo. Tente lembrar-se de todos os lances da partida de seu time do coração. Esta tarefa se torna ainda mais impossível a uma geração que está habituada a fazer diversas atividades ao mesmo tempo. Incentivar a participação dos alunos, solicitando que compartilhem suas experiências, faz com que consigam fazer a ponte entre teoria e prática. Faço, porém, uma observação: a troca necessita ser verdadeira, respeitando eventuais diferenças de janela, ajudando o aluno a construir sobre sua experiência.
Outra grande barreira entre as gerações está nos canais de transmissão das informações. Há ainda muitos professores que têm antipatia às novas ferramentas disponibilizadas pela web e pelas universidades, tais como portais on-line, nos quais há a possibilidade de postagem de trabalhos, criação de grupos de discussão, conteúdos interativos, só para citar algumas aplicações.
Nada contra o método tradicional dos trabalhos em folha de caderno, porém não aproveitar os recursos hoje disponíveis pode sugerir aos alunos uma postura ultrapassada e conservadora. Por fim, o conhecimento compartimentado é outra grande dificuldade de professores e alunos. Aprendemos desde a mais tenra idade a estudar as matérias separadamente. História, Geografia, Química, Biologia, Matemática e Português. Ao ingressar na universidade – como num curso de Administração – o aluno ainda precisa virar a chave entre as aulas: recursos humanos, finanças, marketing, produção.
Não obstante algumas iniciativas para a criação de matérias interdisciplinares, o conhecimento é ainda, em grande parte, colocado em caixas. Há alguns programas de graduação e pós-graduação na área de negócios que têm utilizado, com sucesso, simuladores de treinamento, através dos quais os alunos conseguem ter uma visão integrada do negócio, tomando decisões como se estivessem atuando na vida real, fazendo a ligação entre as diversas disciplinas.
Enfim, estamos em uma nova era e com novos alunos. Fazer com que consigam manter o interesse e a motivação na sala de aula é tarefa exclusiva das escolas e principalmente dos professores, os quais precisam estar constantemente aprendendo novas técnicas e métodos de ensino. Aliás, este é um dos desafios mais interessantes e motivadores da carreira de professor, os quais têm o privilégio de poder inovar a cada aula, a cada interação, a cada curso. Como mestres, temos o papel de influenciar, conduzir e motivar. Neste cenário, discussões são possíveis e incentivadas, ou pelo menos deveriam.



Autor: Marcos Morita é mestre em Administração de Empresas, professor da Universidade Mackenzie (RJ) e professor tutor da FGV (RJ).