segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

O JESUS DO EVANGELHO DE LUCAS NAS NARRATIVAS DA INFÂNCIA



As narrativas da Infância foram vistas por muito tempo como folclore, como pequenas histórias, com um cunho mais de curiosidade sobre os primeiros anos da vida de Jesus, do que propriamente como um conteúdo teológico. Talvez isso ocorreu pelo Natal ser uma festa tão popular, ou pelo fato do Evangelho de São João possuir um prólogo bem elaborado sobre o Verbo de Deus que se fez carne (Jo 1,1-18), ou ainda pelo o Evangelho de Marcos que já no primeiro versículo apresenta quem é Jesus Cristo (Mc 1,1). Todavia, os evangelistas Lucas e Mateus trazem nos dois primeiros capítulos de suas obras as narrativas da infância de Jesus. Lucas é considerado o teólogo da história da Salvação. História esta que ele começa a apresentar a partir dos primeiros versículos do seu evangelho, das narrativas da infância de Jesus. Por este motivo, os textos da infância de Jesus em Lucas foram escolhidos para a análise e identificação de algumas imagens de Jesus que ele constrói. É por meio destas imagens que se chegará ao Jesus nas narrativas da infância de Lucas.
Lucas é o autor do terceiro evangelho e o responsável pela redação do livro dos Atos dos Apóstolos. A sua obra, o terceiro Evangelho, foi escrita pelos anos 80 d.C. O autor era um homem culto do mundo helênico e um historiador cuidadoso, judeu-cristão de língua grega, que vivia numa comunidade heterogênea entre judeus e gentios. Por ter sido um grande conhecedor da filosofia, mitologia e literatura grega como também da tradição judaica, é que a sua mensagem pôde ser compreendida por ambos os povos. Foi um discípulo que se alegrou ao ter encontrado a salvação em Jesus Cristo, mesmo não sendo uma testemunha ocular de Jesus.
Em Lucas capítulo 1-2, tem-se uma luz de todo o acontecimento pascal, assim, esses capítulos são uma introdução de todo o evangelho. As narrativas da infância trazem alguns traços bem particulares nos aspectos teológicos, antropológicos e literários de sua estrutura. A sua intensão teológica é apresentar os acontecimentos da história salvífica realizada na história humana tendo como centro e origem Jesus Cristo. Ao mostrar este fazer salvífico, ele partir de Deus como princípio de tudo, pois a história da salvação se inicia n’Ele, passando pelo tempo de preparação, o povo de Israel, pelo tempo de realização, Encarnação de Jesus Cristo, até chegar no tempo de continuação pela força do Espírito Santo presente na Igreja. Nos aspectos antropológicos apresentam no seu evangelho nomes (Isabel, Zacarias, João Batista), lugares (a uma virgem na cidade de Nazaré) e tempos (no tempo de Herodes, rei da Judeia) com a intenção de mostrar Jesus inserido no cotidiano do ser humano, que vive e participa da vida das pessoas, sem excluir ninguém. Ele utiliza o gênero literário chamado de Midrash aggada. Este gênero faz um aprofundamento espiritual da palavra de Deus e resgata os personagens procurando tirar deles diferentes lições e os coloca como modelos para a comunidade cristã. Duas características literárias particulares em Lucas: a apresentação de uma ordem lógica através da cronologia dos acontecimentos, período do reinado de Herodes, a família de Jesus que vai a Jerusalém para a festa da Páscoa, e o paralelismo, que é uma técnica literária comum do mundo helenístico e na Palestina helênica do século I, onde os escritores procuravam compararem os atos entre dois heróis, o autor do terceiro evangelho usou dessa técnica, colocando em paralelo João e Jesus. A narrativa da infância está estruturada em sete pontos: Anúncio do nascimento de João Batista (1,5-25), Anúncio do nascimento de Jesus (1,26-38), Visita de Maria a Isabel (1,39-56), Nascimento – circuncisão – ato de dar o nome a João Batista (1,57-80), Nascimento – circuncisão – ato de dar o nome a Jesus (2,1-21), Apresentação de Jesus no templo (2,22-40), Encontro de Jesus no templo (2,41-52). As fontes usadas por Lucas foram: às fontes escritas, a tradição oral, o escrito de Marcos, a fonte Quelle (Q) e outros diversos materiais.
A narrativa da Infância de Jesus em Lucas se dá propriamente em Lc 1,5 - 2,52. A organização destes dois capítulos traz lugares, tempo, contexto religioso, personagens e ações. É através desta organização que Lucas apresenta o seu Jesus. Estas características são identificadas por títulos ou imagens. Estes títulos têm a finalidade de fixar o anúncio fundamental e compreensivo de Deus que se fez homem e habitou no meio da humanidade, através dos diversos e incompreensíveis caminhos escolhidos por Ele (Zacarias 1,5-25 e Maria 1,26-38). Deus demonstra o seu poder, a sua presença desde a preparação com o anúncio a Zacarias e o nascimento de João Batista.
No primeiro capítulo se encontram os anúncios: a Zacarias (1,5-25) e a Maria (1,26-38), a visita de Maria a Isabel, essa perícope, quer mostrar o encontro de duas mães com concepções divinamente preparadas (1,39-56), e o nascimento de João Batista (1,57-80). Neste capítulo Lucas destaca os títulos cristológicos referentes a Jesus: Senhor (1,17.43.76), Filho do Altíssimo (1,32), O Santo (1,35), Filho de Deus (1,35) e o Astro luminoso – Sol nascente(1,78). O segundo capítulo inicia com o nascimento de Jesus e a visita dos pastores (2,1-20), a apresentação de Jesus no templo (2,21-40), e termina com Jesus aos doze anos no templo (2,41-52). Algumas imagens cristológicas sobre Jesus apresentada pelo autor do terceiro evangelho neste capítulo são: Salvador (2,11; 2,30), Messias (2,11.26) e Senhor (2,15). Estes títulos veterotestamentais foram tomados originalmente de Isaías, e foram modificados, ligados ao Querigma cristão. Estes títulos são dados em ocasião do nascimento de Jesus, e eles trazem dentro de si uma profissão de fé.
Ressalto por fim, que Lucas busca já nas narrativas da infância demonstrar o porquê da encarnação do Filho de Deus e que esta criança é realmente o Filho de Altíssimo. Pois já a partir dos anúncios e da forma em que se dá a concepção dela, mostram a intervenção divina: “O Santo que nascer será chamado Filho de Deus” (1,35). E aqui é interessante observar: Lucas não tem nenhuma preocupação em satisfazer a curiosidade de sua comunidade em relação de como foi a infância de Jesus, mas Lucas, através dos títulos, apresenta Jesus como Aquele que cumpre a promessa do Pai, que realiza o plano salvífico de Deus, que vem se fazer presente e presença no meio de todos os povos.




Draiton Vieira,CSF
Estudo revela que fazer pré-escola melhora desempenho escolar de crianças

Agência Brasil


O estudo “Impactos da Pré-Escola no Brasil” revelou que as crianças que fazem pré-escola acabam por ter um desempenho melhor nas séries posteriores, principalmente nas matérias de matemática e português. O levantamento foi realizado pelo Centro de Microeconomia Aplicada da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
A pesquisa teve como base os dados da Prova Brasil e do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) referentes ao ano de 2005. De acordo com André Portela Souza, coordenador geral do estudo, a criança que é colocada na pré-escola apresenta, em média, redução no atraso escolar de cerca de um ano e dois meses e aumento na proficiência de matemática
de 0,47 desvio padrão, o que corresponderia, segundo ele, a três anos a mais de escolaridade.
“É como se fosse quase cerca de um ano a mais de escolaridade no aprendizado. A criança que faz [a pré-escola] tem um ano a mais em termos de conteúdo quando chega à 4ª série”, disse Souza, durante apresentação de seu trabalho nesta semana, em São Paulo.
Segundo ele, em 2005, havia cerca de 10 milhões de crianças de 4 a 6 anos de idade no Brasil, dentre as quais 7,1 milhões frequentavam a pré-escola, o que corresponde a 72% do total. Nesse mesmo ano, o País destinava 5% do Produto Interno Bruto (PIB) para a educação. No entanto, a maior parte dos gastos era destinada para a educação superior. Ainda de acordo com Souza, em 2005, o Brasil dedicava o equivalente a 120% da renda per capita do País para cada aluno do ensino superior e um valor condizente a 10% dessa renda para cada aluno de pré-escola. “Investimentos educacionais na infância têm impactos duradouros”, afirmou o pesquisador.
Um resumo do estudo pode ser lido no livro
Aprendizagem Infantil – Uma Abordagem da Neurociência, Economia e Psicologia Cognitiva, coordenado por Aloísio Araújo e lançado pela Academia Brasileira de Ciências. Na apresentação da obra, Araújo declara que “para corrigir as desigualdades educacionais e permitir um maior desenvolvimento econômico através da incorporação de um número maior de adolescentes em faixas mais elevadas de educação, é preciso fazer intervenções na fase mais precoce da criança”.
A apresentação da pesquisa “Impacto da Pré-Escola no Brasil” fez parte do workshop “Impactos da Educação Infantil: O Que Nos Diz a Evidência Empírica”, o qual foi realizado pela FGV nesta semana. Em todos os estudos apresentados, ficou clara a importância de se investir na educação infantil.

sábado, 12 de novembro de 2011

Geração facilitada

Artigo publicado na newsletter semanal +Educação
Revista Profissão Mestre: www.profissaomestre.com.br
12/11/2011





O termo “geração facilitada” tenta traduzir um pouco da realidade dos jovens de classe média brasileira que têm a vida muito mais facilitada que a de seus pais, que ainda trabalham para tentar lhes oferecer melhores condições, boas escolas, vários cursos e intercâmbios.
Em seu artigo “Meu filho, você não merece nada”, a jornalista e escritora Eliane Brum comenta que “há uma geração de classe média que estudou em bons colégios, é fluente em outras línguas, viajou para o exterior e teve acesso à cultura e à tecnologia. Uma geração que teve muito mais do que seus pais. Ao mesmo tempo, cresceu com a ilusão de que a vida é fácil. Ou que já nascem prontos – bastaria apenas que o mundo reconhecesse a sua genialidade.”
Chamo de geração facilitada porque acabam tendo tudo na mão e não existe um estímulo para conquista. Já têm o celular, computador, iPod, carro, conforto e mais um pouco. O que resta na conquista?
Com relação à escolha da profissão, percebemos uma dificuldade na seleção do curso e muita expectativa quanto ao primeiro emprego. Não querem submeter-se a cargos de estagiários em empresas pouco promissoras. Desejam experiências mais atraentes em termos de salários e reconhecimento.
Talvez escolham uma carreira pela “onda” do momento: relações internacionais, petróleo, turismo, tecnologia – áreas altamente promissoras. Só que, na maioria dos casos, a escolha não está ligada ao seu perfil. Buscam uma realização pessoal e acabam perdendo o foco da realização do grupo, porque, numa organização, o que conta é o sucesso da equipe, da empresa como um todo, não apenas de um único talento (qualquer semelhança com a Seleção Brasileira de futebol é pura coincidência).
Foram ensinados a superar desafios sozinhos e agora precisam aprender a compartilhar conhecimento e melhorar os relacionamentos. Expõem todos os desejos nas redes sociais e querem compreensão desse novo universo. Um desafio para todos que estão envolvidos com o processo da sua educação: professores e recrutadores que passam pela difícil tarefa de desenvolver habilidades com essa turma de nativos digitais, enquanto nós ainda estamos aprendendo sobre esse mundo. Bela troca, não?
Acredito ser assim que a sociedade vai se ajustando, a cada novo momento, novas oportunidades. A realidade será aquilo que nós mesmos inventarmos.

Autora:
Leticia Bechara é mestre em Educação e coordenadora do vestibular da Trevisan Escola de Negócios, de São Paulo (SP).

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Ponto de exclamação

Fragmento de uma postagem do Zeca Camargo em 20/10/11






Sei que eu mesmo sou mestre em abusar dessa pontuação. Acho que é um tique meu! Sempre coloquei esse sinal em tudo quanto é texto que eu escrevo. Mas – você vai concordar – nunca as pessoas escreveram com tanta ênfase na exclamação. Com as mensagens cada vez mais curtas, parece que todo mundo agora precisa dar ainda mais intensidade ao que diz. Gostou de um filme? Adorei!!!!!!!!!! E o show do Guns? O melhor!!!!!!!!!!!! E a festa de ontem? O bicho!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! A piada que eu twitei? Kkkkkkkkkkkkkkk!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Mas nessa onda de exageros, é interessante observar que às vezes basta apenas uma exclamação para chamar a sua atenção. Tão preocupados estamos sempre em dar a dimensão da nossa intenção nessas mensagens rápidas, que nos esquecemos que o que conta mesmo é o que vem antes da exclamação. Caso em questão: os artistas que participam da exposição “Em nome dos artistas”, atualmente em cartaz no Pavilhão da Bienal, no Parque do Ibirapuera, em São Paulo. Nos cartazes e em toda a programação gráfica da mostra os nomes dos convidados vêm seguidos de uma simples exclamação. Basta isso!
Estou para falar disso já há alguns dias, desde que visitei a mostra na semana de sua abertura. Outros assuntos acabaram entrando na frente, mas aqueles pontos de exclamação não me saem da cabeça – quem sabe agora, já que eu vou tentar te convencer a ir até lá. Ao fazer esse convite, sei bem que estou sendo injusto com quem não mora em São Paulo, ou não tem a facilidade de passar pela cidade até o início de dezembro (quando ela se encerra). Mas é que, ao contrário de outros eventos culturais que eu costumo mostrar aqui (filmes, música, TV), arte tem essa “coisa chata” de se deslocar pouco. Na verdade, é a gente que tem de ir até ela. Dá trabalho, eu sei. Eu mesmo já cheguei a fazer loucuras, apenas para ver “a última loucura” de um artista que eu gostava bem – como foi o caso, em julho de 2008, das cataratas artificiais de Olafur Eliasson em Nova York (artista este que, aliás, também ganha agora uma exposição em São Paulo – sobre a qual pretendo escrever assim que conseguir visitar). Então quem sabe você não se anima?



Escrito por Zeca Camargo

http://g1.globo.com/platb/zecacamargo/

O professor e as evoluções tecnológicas

no ensino presencial

Artigo publicado na newsletter semanal +Educação
Revista Profissão Mestre: www.profissaomestre.com.br
04/11/2011






Como membro da meia idade, nascido no final dos anos 1960, eu fui educado em uma época com poucas informações, as quais eram obtidas através dos poucos jornais televisivos e da mídia impressa. Entre assistir a televisão e jogar bola, a segunda opção era sempre a preferida. Até por estas escolhas, éramos ingênuos, inocentes e pouco informados sobre o que se passava ao nosso redor, o qual se limitava ao perímetro da rua ou da vizinhança.
Hoje tudo mudou. Com um ano e meio ou dois, a criança já se inicia no mundo tecnológico através dos controles remotos da televisão, do vídeo e da TV a cabo, tendo a sua disposição dezenas de canais infantis a qualquer hora. Aos seis ou sete anos, já dominam diversas tecnologias, em alguns casos ensinando seus pais ou avós. Crescem com o mundo na ponta dos dedos, fazendo amigos em redes sociais, conversando em chats e enviando mensagens via SMS. Não hesitam em escolher o computador à rua ou à bicicleta.
Neste novo cenário, o professor tem um novo papel, não menos relevante, porém totalmente diferente. O docente deixa de ser a autoridade em sala de aula, uma vez que não é mais o detentor único das informações. Imagine que tarefa maçante para o aluno decorar ou copiar a definição de um conceito, quando este pode ser encontrado no “doutor Google”, segmentado por autores, épocas ou escolas. Entra em cena o trabalho conjunto, no qual professor e aluno trabalham em sua construção, através de metodologias como a geração de ideias ou brainstorming, mesclando com exemplos sua aplicação em casos práticos.
O que dizer então de uma aula expositiva de noventa minutos? Nem o mais compenetrado dos alunos será capaz de permanecer atento após o final do primeiro tempo. Tente lembrar-se de todos os lances da partida de seu time do coração. Esta tarefa se torna ainda mais impossível a uma geração que está habituada a fazer diversas atividades ao mesmo tempo. Incentivar a participação dos alunos, solicitando que compartilhem suas experiências, faz com que consigam fazer a ponte entre teoria e prática. Faço, porém, uma observação: a troca necessita ser verdadeira, respeitando eventuais diferenças de janela, ajudando o aluno a construir sobre sua experiência.
Outra grande barreira entre as gerações está nos canais de transmissão das informações. Há ainda muitos professores que têm antipatia às novas ferramentas disponibilizadas pela web e pelas universidades, tais como portais on-line, nos quais há a possibilidade de postagem de trabalhos, criação de grupos de discussão, conteúdos interativos, só para citar algumas aplicações.
Nada contra o método tradicional dos trabalhos em folha de caderno, porém não aproveitar os recursos hoje disponíveis pode sugerir aos alunos uma postura ultrapassada e conservadora. Por fim, o conhecimento compartimentado é outra grande dificuldade de professores e alunos. Aprendemos desde a mais tenra idade a estudar as matérias separadamente. História, Geografia, Química, Biologia, Matemática e Português. Ao ingressar na universidade – como num curso de Administração – o aluno ainda precisa virar a chave entre as aulas: recursos humanos, finanças, marketing, produção.
Não obstante algumas iniciativas para a criação de matérias interdisciplinares, o conhecimento é ainda, em grande parte, colocado em caixas. Há alguns programas de graduação e pós-graduação na área de negócios que têm utilizado, com sucesso, simuladores de treinamento, através dos quais os alunos conseguem ter uma visão integrada do negócio, tomando decisões como se estivessem atuando na vida real, fazendo a ligação entre as diversas disciplinas.
Enfim, estamos em uma nova era e com novos alunos. Fazer com que consigam manter o interesse e a motivação na sala de aula é tarefa exclusiva das escolas e principalmente dos professores, os quais precisam estar constantemente aprendendo novas técnicas e métodos de ensino. Aliás, este é um dos desafios mais interessantes e motivadores da carreira de professor, os quais têm o privilégio de poder inovar a cada aula, a cada interação, a cada curso. Como mestres, temos o papel de influenciar, conduzir e motivar. Neste cenário, discussões são possíveis e incentivadas, ou pelo menos deveriam.



Autor: Marcos Morita é mestre em Administração de Empresas, professor da Universidade Mackenzie (RJ) e professor tutor da FGV (RJ).

sexta-feira, 28 de outubro de 2011


Carta Apostólica “Porta Fidei” – Bento XVI
Carta Apostólica sob forma de Motu Proprio


PORTA FIDEI


Do Sumo Pontífice
BENTO XVI










COM A QUAL SE PROCLAMA O ANO DA FÉ
1. A PORTA DA FÉ (cf. Act 14, 27), que introduz na vida de comunhão com Deus e permite a entrada na sua Igreja, está sempre aberta para nós. É possível cruzar este limiar, quando a Palavra de Deus é anunciada e o coração se deixa plasmar pela graça que transforma. Atravessar esta porta implica embrenhar-se num caminho que dura a vida inteira. Este caminho tem início no Baptismo (cf. Rm 6, 4), pelo qual podemos dirigir-nos a Deus com o nome de Pai, e está concluído com a passagem através da morte para a vida eterna, fruto da ressurreição do Senhor Jesus, que, com o dom do Espírito Santo, quis fazer participantes da sua própria glória quantos crêem n’Ele (cf. Jo 17, 22). Professar a fé na Trindade – Pai, Filho e Espírito Santo – equivale a crer num só Deus que é Amor (cf. 1 Jo 4, 8): o Pai, que na plenitude dos tempos enviou seu Filho para a nossa salvação; Jesus Cristo, que redimiu o mundo no mistério da sua morte e ressurreição; o Espírito Santo, que guia a Igreja através dos séculos enquanto aguarda o regresso glorioso do Senhor.
2. Desde o princípio do meu ministério como Sucessor de Pedro, lembrei a necessidade de redescobrir o caminho da fé para fazer brilhar, com evidência sempre maior, a alegria e o renovado entusiasmo do encontro com Cristo. Durante a homilia da Santa Missa no início do pontificado, disse: «A Igreja no seu conjunto, e os Pastores nela, como Cristo devem pôr-se a caminho para conduzir os homens fora do deserto, para lugares da vida, da amizade com o Filho de Deus, para Aquele que dá a vida, a vida em plenitude»[1]. Sucede não poucas vezes que os cristãos sintam maior preocupação com as consequências sociais, culturais e políticas da fé do que com a própria fé, considerando esta como um pressuposto óbvio da sua vida diária. Ora um tal pressuposto não só deixou de existir, mas frequentemente acaba até negado.[2] Enquanto, no passado, era possível reconhecer um tecido cultural unitário, amplamente compartilhado no seu apelo aos conteúdos da fé e aos valores por ela inspirados, hoje parece que já não é assim em grandes sectores da sociedade devido a uma profunda crise de fé que atingiu muitas pessoas.
3. Não podemos aceitar que o sal se torne insípido e a luz fique escondida (cf. Mt 5, 13-16). Também o homem contemporâneo pode sentir de novo a necessidade de ir como a samaritana ao poço, para ouvir Jesus que convida a crer n’Ele e a beber na sua fonte, donde jorra água viva (cf. Jo 4, 14). Devemos readquirir o gosto de nos alimentarmos da Palavra de Deus, transmitida fielmente pela Igreja, e do Pão da vida, oferecidos como sustento de quantos são seus discípulos (cf. Jo 6, 51). De facto, em nossos dias ressoa ainda, com a mesma força, este ensinamento de Jesus: «Trabalhai, não pelo alimento que desaparece, mas pelo alimento que perdura e dá a vida eterna» (Jo 6, 27). E a questão, então posta por aqueles que O escutavam, é a mesma que colocamos nós também hoje: «Que havemos nós de fazer para realizar as obras de Deus?» (Jo 6, 28). Conhecemos a resposta de Jesus: «A obra de Deus é esta: crer n’Aquele que Ele enviou» (Jo 6, 29). Por isso, crer em Jesus Cristo é o caminho para se poder chegar definitivamente à salvação.
4. À luz de tudo isto, decidi proclamar um Ano da Fé. Este terá início a 11 de Outubro de 2012, no cinquentenário da abertura do Concílio Vaticano II, e terminará na Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo, a 24 de Novembro de 2013. Na referida data de 11 de Outubro de 2012, completar-se-ão também vinte anos da publicação do Catecismo da Igreja Católica, texto promulgado pelo meu Predecessor, o Beato Papa João Paulo II,[3] com o objectivo de ilustrar a todos os fiéis a força e a beleza da fé. Esta obra, verdadeiro fruto do Concílio Vaticano II, foi desejada pelo Sínodo Extraordinário dos Bispos de 1985 como instrumento ao serviço da catequese[4] e foi realizado com a colaboração de todo o episcopado da Igreja Católica. E uma Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos foi convocada por mim, precisamente para o mês de Outubro de 2012, tendo por tema A nova evangelização para a transmissão da fé cristã. Será uma ocasião propícia para introduzir o complexo eclesial inteiro num tempo de particular reflexão e redescoberta da fé. Não é a primeira vez que a Igreja é chamada a celebrar um Ano da Fé. O meu venerado Predecessor, o Servo de Deus Paulo VI, proclamou um ano semelhante, em 1967, para comemorar o martírio dos apóstolos Pedro e Paulo no décimo nono centenário do seu supremo testemunho. Idealizou-o como um momento solene, para que houvesse, em toda a Igreja, «uma autêntica e sincera profissão da mesma fé»; quis ainda que esta fosse confirmada de maneira «individual e colectiva, livre e consciente, interior e exterior, humilde e franca».[5] Pensava que a Igreja poderia assim retomar «exacta consciência da sua fé para a reavivar, purificar, confirmar, confessar».[6] As grandes convulsões, que se verificaram naquele Ano, tornaram ainda mais evidente a necessidade duma tal celebração. Esta terminou com a Profissão de Fé do Povo de Deus,[7] para atestar como os conteúdos essenciais, que há séculos constituem o património de todos os crentes, necessitam de ser confirmados, compreendidos e aprofundados de maneira sempre nova para se dar testemunho coerente deles em condições históricas diversas das do passado.
5. Sob alguns aspectos, o meu venerado Predecessor viu este Ano como uma «consequência e exigência pós-conciliar»[8], bem ciente das graves dificuldades daquele tempo sobretudo no que se referia à profissão da verdadeira fé e da sua recta interpretação. Pareceu-me que fazer coincidir o início do Ano da Fé com o cinquentenário da abertura do Concílio Vaticano II poderia ser uma ocasião propícia para compreender que os textos deixados em herança pelos Padres Conciliares, segundo as palavras do Beato João Paulo II, «não perdem o seu valor nem a sua beleza. É necessário fazê-los ler de forma tal que possam ser conhecidos e assimilados como textos qualificados e normativos do Magistério, no âmbito da Tradição da Igreja. Sinto hoje ainda mais intensamente o dever de indicar o Concílio como a grande graça de que beneficiou a Igreja no século XX: nele se encontra uma bússola segura para nos orientar no caminho do século que começa».[9] Quero aqui repetir com veemência as palavras que disse a propósito do Concílio poucos meses depois da minha eleição para Sucessor de Pedro: «Se o lermos e recebermos guiados por uma justa hermenêutica, o Concílio pode ser e tornar-se cada vez mais uma grande força para a renovação sempre necessária da Igreja».[10]
6. A renovação da Igreja realiza-se também através do testemunho prestado pela vida dos crentes: de facto, os cristãos são chamados a fazer brilhar, com a sua própria vida no mundo, a Palavra de verdade que o Senhor Jesus nos deixou. O próprio Concílio, na Constituição dogmática Lumen gentium, afirma: «Enquanto Cristo “santo, inocente, imaculado” (Heb 7, 26), não conheceu o pecado (cf. 2 Cor 5, 21), mas veio apenas expiar os pecados do povo (cf. Heb 2, 17), a Igreja, contendo pecadores no seu próprio seio, simultaneamente santa e sempre necessitada de purificação, exercita continuamente a penitência e a renovação. A Igreja “prossegue a sua peregrinação no meio das perseguições do mundo e das consolações de Deus”, anunciando a cruz e a morte do Senhor até que Ele venha (cf. 1 Cor 11, 26). Mas é robustecida pela força do Senhor ressuscitado, de modo a vencer, pela paciência e pela caridade, as suas aflições e dificuldades tanto internas como externas, e a revelar, velada mas fielmente, o seu mistério, até que por fim se manifeste em plena luz».[11]
Nesta perspectiva, o Ano da Fé é convite para uma autêntica e renovada conversão ao Senhor, único Salvador do mundo. No mistério da sua morte e ressurreição, Deus revelou plenamente o Amor que salva e chama os homens à conversão de vida por meio da remissão dos pecados (cf. Act 5, 31). Para o apóstolo Paulo, este amor introduz o homem numa vida nova: «Pelo Baptismo fomos sepultados com Ele na morte, para que, tal como Cristo foi ressuscitado de entre os mortos pela glória do Pai, também nós caminhemos numa vida nova» (Rm 6, 4). Em virtude da fé, esta vida nova plasma toda a existência humana segundo a novidade radical da ressurreição. Na medida da sua livre disponibilidade, os pensamentos e os afectos, a mentalidade e o comportamento do homem vão sendo pouco a pouco purificados e transformados, ao longo de um itinerário jamais completamente terminado nesta vida. A «fé, que actua pelo amor» (Gl 5, 6), torna-se um novo critério de entendimento e de acção, que muda toda a vida do homem (cf. Rm 12, 2; Cl 3, 9-10; Ef 4, 20-29; 2 Cor 5, 17).
7. «Caritas Christi urget nos – o amor de Cristo nos impele» (2 Cor 5, 14): é o amor de Cristo que enche os nossos corações e nos impele a evangelizar. Hoje, como outrora, Ele envia-nos pelas estradas do mundo para proclamar o seu Evangelho a todos os povos da terra (cf. Mt 28, 19). Com o seu amor, Jesus Cristo atrai a Si os homens de cada geração: em todo o tempo, Ele convoca a Igreja confiando-lhe o anúncio do Evangelho, com um mandato que é sempre novo. Por isso, também hoje é necessário um empenho eclesial mais convicto a favor duma nova evangelização, para descobrir de novo a alegria de crer e reencontrar o entusiasmo de comunicar a fé. Na descoberta diária do seu amor, ganha força e vigor o compromisso missionário dos crentes, que jamais pode faltar. Com efeito, a fé cresce quando é vivida como experiência de um amor recebido e é comunicada como experiência de graça e de alegria. A fé torna-nos fecundos, porque alarga o coração com a esperança e permite oferecer um testemunho que é capaz de gerar: de facto, abre o coração e a mente dos ouvintes para acolherem o convite do Senhor a aderir à sua Palavra a fim de se tornarem seus discípulos. Os crentes – atesta Santo Agostinho – «fortificam-se acreditando».[12] O Santo Bispo de Hipona tinha boas razões para falar assim. Como sabemos, a sua vida foi uma busca contínua da beleza da fé enquanto o seu coração não encontrou descanso em Deus.[13] Os seus numerosos escritos, onde se explica a importância de crer e a verdade da fé, permaneceram até aos nossos dias como um património de riqueza incomparável e consentem ainda que tantas pessoas à procura de Deus encontrem o justo percurso para chegar à «porta da fé».
Por conseguinte, só acreditando é que a fé cresce e se revigora; não há outra possibilidade de adquirir certeza sobre a própria vida, senão abandonar-se progressivamente nas mãos de um amor que se experimenta cada vez maior porque tem a sua origem em Deus.
8. Nesta feliz ocorrência, pretendo convidar os Irmãos Bispos de todo o mundo para que se unam ao Sucessor de Pedro, no tempo de graça espiritual que o Senhor nos oferece, a fim de comemorar o dom precioso da fé. Queremos celebrar este Ano de forma digna e fecunda. Deverá intensificar-se a reflexão sobre a fé, para ajudar todos os crentes em Cristo a tornarem mais consciente e revigorarem a sua adesão ao Evangelho, sobretudo num momento de profunda mudança como este que a humanidade está a viver. Teremos oportunidade de confessar a fé no Senhor Ressuscitado nas nossas catedrais e nas igrejas do mundo inteiro, nas nossas casas e no meio das nossas famílias, para que cada um sinta fortemente a exigência de conhecer melhor e de transmitir às gerações futuras a fé de sempre. Neste Ano, tanto as comunidades religiosas como as comunidades paroquiais e todas as realidades eclesiais, antigas e novas, encontrarão forma de fazer publicamente profissão do Credo.
9. Desejamos que este Ano suscite, em cada crente, o anseio de confessar a fé plenamente e com renovada convicção, com confiança e esperança. Será uma ocasião propícia também para intensificar a celebração da fé na liturgia, particularmente na Eucaristia, que é «a meta para a qual se encaminha a acção da Igreja e a fonte de onde promana toda a sua força».[14] Simultaneamente esperamos que o testemunho de vida dos crentes cresça na sua credibilidade. Descobrir novamente os conteúdos da fé professada, celebrada, vivida e rezada[15] e reflectir sobre o próprio acto com que se crê, é um compromisso que cada crente deve assumir, sobretudo neste Ano.
Não foi sem razão que, nos primeiros séculos, os cristãos eram obrigados a aprender de memória o Credo. É que este servia-lhes de oração diária, para não esquecerem o compromisso assumido com o Baptismo. Recorda-o, com palavras densas de significado, Santo Agostinho quando afirma numa homilia sobre a redditio symboli (a entrega do Credo): «O símbolo do santo mistério, que recebestes todos juntos e que hoje proferistes um a um, reúne as palavras sobre as quais está edificada com solidez a fé da Igreja, nossa Mãe, apoiada no alicerce seguro que é Cristo Senhor. E vós recebeste-lo e proferiste-lo, mas deveis tê-lo sempre presente na mente e no coração, deveis repeti-lo nos vossos leitos, pensar nele nas praças e não o esquecer durante as refeições; e, mesmo quando o corpo dorme, o vosso coração continue de vigília por ele».[16]
10. Queria agora delinear um percurso que ajude a compreender de maneira mais profunda os conteúdos da fé e, juntamente com eles, também o acto pelo qual decidimos, com plena liberdade, entregar-nos totalmente a Deus. De facto, existe uma unidade profunda entre o acto com que se crê e os conteúdos a que damos o nosso assentimento. O apóstolo Paulo permite entrar dentro desta realidade quando escreve: «Acredita-se com o coração e, com a boca, faz-se a profissão de fé» (Rm 10, 10). O coração indica que o primeiro acto, pelo qual se chega à fé, é dom de Deus e acção da graça que age e transforma a pessoa até ao mais íntimo dela mesma.
A este respeito é muito eloquente o exemplo de Lídia. Narra São Lucas que o apóstolo Paulo, encontrando-se em Filipos, num sábado foi anunciar o Evangelho a algumas mulheres; entre elas, estava Lídia. «O Senhor abriu-lhe o coração para aderir ao que Paulo dizia» (Act 16, 14). O sentido contido na expressão é importante. São Lucas ensina que o conhecimento dos conteúdos que se deve acreditar não é suficiente, se depois o coração – autêntico sacrário da pessoa – não for aberto pela graça, que consente ter olhos para ver em profundidade e compreender que o que foi anunciado é a Palavra de Deus.
Por sua vez, o professar com a boca indica que a fé implica um testemunho e um compromisso públicos. O cristão não pode jamais pensar que o crer seja um facto privado. A fé é decidir estar com o Senhor, para viver com Ele. E este «estar com Ele» introduz na compreensão das razões pelas quais se acredita. A fé, precisamente porque é um acto da liberdade, exige também assumir a responsabilidade social daquilo que se acredita. No dia de Pentecostes, a Igreja manifesta, com toda a clareza, esta dimensão pública do crer e do anunciar sem temor a própria fé a toda a gente. É o dom do Espírito Santo que prepara para a missão e fortalece o nosso testemunho, tornando-o franco e corajoso.
A própria profissão da fé é um acto simultaneamente pessoal e comunitário. De facto, o primeiro sujeito da fé é a Igreja. É na fé da comunidade cristã que cada um recebe o Baptismo, sinal eficaz da entrada no povo dos crentes para obter a salvação. Como atesta o Catecismo da Igreja Católica, «“Eu creio”: é a fé da Igreja, professada pessoalmente por cada crente, principalmente por ocasião do Baptismo. “Nós cremos”: é a fé da Igreja, confessada pelos bispos reunidos em Concílio ou, de modo mais geral, pela assembleia litúrgica dos crentes. “Eu creio”: é também a Igreja, nossa Mãe, que responde a Deus pela sua fé e nos ensina a dizer: “Eu creio”, “Nós cremos”».[17]
Como se pode notar, o conhecimento dos conteúdos de fé é essencial para se dar o próprio assentimento, isto é, para aderir plenamente com a inteligência e a vontade a quanto é proposto pela Igreja. O conhecimento da fé introduz na totalidade do mistério salvífico revelado por Deus. Por isso, o assentimento prestado implica que, quando se acredita, se aceita livremente todo o mistério da fé, porque o garante da sua verdade é o próprio Deus, que Se revela e permite conhecer o seu mistério de amor.[18]
Por outro lado, não podemos esquecer que, no nosso contexto cultural, há muitas pessoas que, embora não reconhecendo em si mesmas o dom da fé, todavia vivem uma busca sincera do sentido último e da verdade definitiva acerca da sua existência e do mundo. Esta busca é um verdadeiro «preâmbulo» da fé, porque move as pessoas pela estrada que conduz ao mistério de Deus. De facto, a própria razão do homem traz inscrita em si mesma a exigência «daquilo que vale e permanece sempre».[19] Esta exigência constitui um convite permanente, inscrito indelevelmente no coração humano, para caminhar ao encontro d’Aquele que não teríamos procurado se Ele mesmo não tivesse já vindo ao nosso encontro.[20] É precisamente a este encontro que nos convida e abre plenamente a fé.
11. Para chegar a um conhecimento sistemático da fé, todos podem encontrar um subsídio precioso e indispensável no Catecismo da Igreja Católica. Este constitui um dos frutos mais importantes do Concílio Vaticano II. Na Constituição apostólica Fidei depositum – não sem razão assinada na passagem do trigésimo aniversário da abertura do Concílio Vaticano II – o Beato João Paulo II escrevia: «Este catecismo dará um contributo muito importante à obra de renovação de toda a vida eclesial (…). Declaro-o norma segura para o ensino da fé e, por isso, instrumento válido e legítimo ao serviço da comunhão eclesial».[21]
É precisamente nesta linha que o Ano da Fé deverá exprimir um esforço generalizado em prol da redescoberta e do estudo dos conteúdos fundamentais da fé, que têm no Catecismo da Igreja Católica a sua síntese sistemática e orgânica. Nele, de facto, sobressai a riqueza de doutrina que a Igreja acolheu, guardou e ofereceu durante os seus dois mil anos de história. Desde a Sagrada Escritura aos Padres da Igreja, desde os Mestres de teologia aos Santos que atravessaram os séculos, o Catecismo oferece uma memória permanente dos inúmeros modos em que a Igreja meditou sobre a fé e progrediu na doutrina para dar certeza aos crentes na sua vida de fé.
Na sua própria estrutura, o Catecismo da Igreja Católica apresenta o desenvolvimento da fé até chegar aos grandes temas da vida diária. Repassando as páginas, descobre-se que o que ali se apresenta não é uma teoria, mas o encontro com uma Pessoa que vive na Igreja. Na verdade, a seguir à profissão de fé, vem a explicação da vida sacramental, na qual Cristo está presente e operante, continuando a construir a sua Igreja. Sem a liturgia e os sacramentos, a profissão de fé não seria eficaz, porque faltaria a graça que sustenta o testemunho dos cristãos. Na mesma linha, a doutrina do Catecismo sobre a vida moral adquire todo o seu significado, se for colocada em relação com a fé, a liturgia e a oração.
12. Assim, no Ano em questão, o Catecismo da Igreja Católica poderá ser um verdadeiro instrumento de apoio da fé, sobretudo para quantos têm a peito a formação dos cristãos, tão determinante no nosso contexto cultural. Com tal finalidade, convidei a Congregação para a Doutrina da Fé a redigir, de comum acordo com os competentes Organismos da Santa Sé, uma Nota, através da qual se ofereçam à Igreja e aos crentes algumas indicações para viver, nos moldes mais eficazes e apropriados, este Ano da Fé ao serviço do crer e do evangelizar.
De facto, em nossos dias mais do que no passado, a fé vê-se sujeita a uma série de interrogativos, que provêm duma diversa mentalidade que, hoje de uma forma particular, reduz o âmbito das certezas racionais ao das conquistas científicas e tecnológicas. Mas, a Igreja nunca teve medo de mostrar que não é possível haver qualquer conflito entre fé e ciência autêntica, porque ambas, embora por caminhos diferentes, tendem para a verdade.[22]
13. Será decisivo repassar, durante este Ano, a história da nossa fé, que faz ver o mistério insondável da santidade entrelaçada com o pecado. Enquanto a primeira põe em evidência a grande contribuição que homens e mulheres prestaram para o crescimento e o progresso da comunidade com o testemunho da sua vida, o segundo deve provocar em todos uma sincera e contínua obra de conversão para experimentar a misericórdia do Pai, que vem ao encontro de todos.
Ao longo deste tempo, manteremos o olhar fixo sobre Jesus Cristo, «autor e consumador da fé» (Heb 12, 2): n’Ele encontra plena realização toda a ânsia e anélito do coração humano. A alegria do amor, a resposta ao drama da tribulação e do sofrimento, a força do perdão face à ofensa recebida e a vitória da vida sobre o vazio da morte, tudo isto encontra plena realização no mistério da sua Encarnação, do seu fazer-Se homem, do partilhar connosco a fragilidade humana para a transformar com a força da sua ressurreição. N’Ele, morto e ressuscitado para a nossa salvação, encontram plena luz os exemplos de fé que marcaram estes dois mil anos da nossa história de salvação.
Pela fé, Maria acolheu a palavra do Anjo e acreditou no anúncio de que seria Mãe de Deus na obediência da sua dedicação (cf. Lc 1, 38). Ao visitar Isabel, elevou o seu cântico de louvor ao Altíssimo pelas maravilhas que realizava em quantos a Ele se confiavam (cf. Lc 1, 46-55). Com alegria e trepidação, deu à luz o seu Filho unigénito, mantendo intacta a sua virgindade (cf. Lc 2, 6-7). Confiando em José, seu Esposo, levou Jesus para o Egipto a fim de O salvar da perseguição de Herodes (cf. Mt 2, 13-15). Com a mesma fé, seguiu o Senhor na sua pregação e permaneceu a seu lado mesmo no Gólgota (cf. Jo 19, 25-27). Com fé, Maria saboreou os frutos da ressurreição de Jesus e, conservando no coração a memória de tudo (cf. Lc 2, 19.51), transmitiu-a aos Doze reunidos com Ela no Cenáculo para receberem o Espírito Santo (cf. Act 1, 14; 2, 1-4).
Pela fé, os Apóstolos deixaram tudo para seguir o Mestre (cf. Mc 10, 28). Acreditaram nas palavras com que Ele anunciava o Reino de Deus presente e realizado na sua Pessoa (cf. Lc 11, 20). Viveram em comunhão de vida com Jesus, que os instruía com a sua doutrina, deixando-lhes uma nova regra de vida pela qual haveriam de ser reconhecidos como seus discípulos depois da morte d’Ele (cf. Jo 13, 34-35). Pela fé, foram pelo mundo inteiro, obedecendo ao mandato de levar o Evangelho a toda a criatura (cf. Mc 16, 15) e, sem temor algum, anunciaram a todos a alegria da ressurreição, de que foram fiéis testemunhas.
Pela fé, os discípulos formaram a primeira comunidade reunida à volta do ensino dos Apóstolos, na oração, na celebração da Eucaristia, pondo em comum aquilo que possuíam para acudir às necessidades dos irmãos (cf. Act 2, 42-47).
Pela fé, os mártires deram a sua vida para testemunhar a verdade do Evangelho que os transformara, tornando-os capazes de chegar até ao dom maior do amor com o perdão dos seus próprios perseguidores.
Pela fé, homens e mulheres consagraram a sua vida a Cristo, deixando tudo para viver em simplicidade evangélica a obediência, a pobreza e a castidade, sinais concretos de quem aguarda o Senhor, que não tarda a vir. Pela fé, muitos cristãos se fizeram promotores de uma acção em prol da justiça, para tornar palpável a palavra do Senhor, que veio anunciar a libertação da opressão e um ano de graça para todos (cf. Lc 4, 18-19).
Pela fé, no decurso dos séculos, homens e mulheres de todas as idades, cujo nome está escrito no Livro da vida (cf. Ap 7, 9; 13, 8), confessaram a beleza de seguir o Senhor Jesus nos lugares onde eram chamados a dar testemunho do seu ser cristão: na família, na profissão, na vida pública, no exercício dos carismas e ministérios a que foram chamados.
Pela fé, vivemos também nós, reconhecendo o Senhor Jesus vivo e presente na nossa vida e na história.
14. O Ano da Fé será uma ocasião propícia também para intensificar o testemunho da caridade. Recorda São Paulo: «Agora permanecem estas três coisas: a fé, a esperança e a caridade; mas a maior de todas é a caridade» (1 Cor 13, 13). Com palavras ainda mais incisivas – que não cessam de empenhar os cristãos –, afirmava o apóstolo Tiago: «De que aproveita, irmãos, que alguém diga que tem fé, se não tiver obras de fé? Acaso essa fé poderá salvá-lo? Se um irmão ou uma irmã estiverem nus e precisarem de alimento quotidiano, e um de vós lhes disser: “Ide em paz, tratai de vos aquecer e de matar a fome”, mas não lhes dais o que é necessário ao corpo, de que lhes aproveitará? Assim também a fé: se ela não tiver obras, está completamente morta. Mais ainda! Poderá alguém alegar sensatamente: “Tu tens a fé, e eu tenho as obras; mostra-me então a tua fé sem obras, que eu, pelas minhas obras, te mostrarei a minha fé”» (Tg 2, 14-18).
A fé sem a caridade não dá fruto, e a caridade sem a fé seria um sentimento constantemente à mercê da dúvida. Fé e caridade reclamam-se mutuamente, de tal modo que uma consente à outra realizar o seu caminho. De facto, não poucos cristãos dedicam amorosamente a sua vida a quem vive sozinho, marginalizado ou excluído, considerando-o como o primeiro a quem atender e o mais importante a socorrer, porque é precisamente nele que se espelha o próprio rosto de Cristo. Em virtude da fé, podemos reconhecer naqueles que pedem o nosso amor o rosto do Senhor ressuscitado. «Sempre que fizestes isto a um dos meus irmãos mais pequeninos, a Mim mesmo o fizestes» (Mt 25, 40): estas palavras de Jesus são uma advertência que não se deve esquecer e um convite perene a devolvermos aquele amor com que Ele cuida de nós. É a fé que permite reconhecer Cristo, e é o seu próprio amor que impele a socorrê-Lo sempre que Se faz próximo nosso no caminho da vida. Sustentados pela fé, olhamos com esperança o nosso serviço no mundo, aguardando «novos céus e uma nova terra, onde habite a justiça» (2 Ped 3, 13; cf. Ap 21, 1).
15. Já no termo da sua vida, o apóstolo Paulo pede ao discípulo Timóteo que «procure a fé» (cf. 2 Tm 2, 22) com a mesma constância de quando era novo (cf. 2 Tm 3, 15). Sintamos este convite dirigido a cada um de nós, para que ninguém se torne indolente na fé. Esta é companheira de vida, que permite perceber, com um olhar sempre novo, as maravilhas que Deus realiza por nós. Solícita a identificar os sinais dos tempos no hoje da história, a fé obriga cada um de nós a tornar-se sinal vivo da presença do Ressuscitado no mundo. Aquilo de que o mundo tem hoje particular necessidade é o testemunho credível de quantos, iluminados na mente e no coração pela Palavra do Senhor, são capazes de abrir o coração e a mente de muitos outros ao desejo de Deus e da vida verdadeira, aquela que não tem fim.
Que «a Palavra do Senhor avance e seja glorificada» (2 Ts 3, 1)! Possa este Ano da Fé tornar cada vez mais firme a relação com Cristo Senhor, dado que só n’Ele temos a certeza para olhar o futuro e a garantia dum amor autêntico e duradouro. As seguintes palavras do apóstolo Pedro lançam um último jorro de luz sobre a fé: «É por isso que exultais de alegria, se bem que, por algum tempo, tenhais de andar aflitos por diversas provações; deste modo, a qualidade genuína da vossa fé – muito mais preciosa do que o ouro perecível, por certo também provado pelo fogo – será achada digna de louvor, de glória e de honra, na altura da manifestação de Jesus Cristo. Sem O terdes visto, vós O amais; sem O ver ainda, credes n’Ele e vos alegrais com uma alegria indescritível e irradiante, alcançando assim a meta da vossa fé: a salvação das almas» (1 Ped 1, 6-9). A vida dos cristãos conhece a experiência da alegria e a do sofrimento. Quantos Santos viveram na solidão! Quantos crentes, mesmo em nossos dias, provados pelo silêncio de Deus, cuja voz consoladora queriam ouvir! As provas da vida, ao mesmo tempo que permitem compreender o mistério da Cruz e participar nos sofrimentos de Cristo (cf. Cl 1, 24) , são prelúdio da alegria e da esperança a que a fé conduz: «Quando sou fraco, então é que sou forte» (2 Cor 12, 10). Com firme certeza, acreditamos que o Senhor Jesus derrotou o mal e a morte. Com esta confiança segura, confiamo-nos a Ele: Ele, presente no meio de nós, vence o poder do maligno (cf. Lc 11, 20); e a Igreja, comunidade visível da sua misericórdia, permanece n’Ele como sinal da reconciliação definitiva com o Pai.
À Mãe de Deus, proclamada «feliz porque acreditou» (cf. Lc 1, 45), confiamos este tempo de graça.
Dado em Roma, junto de São Pedro, no dia 11 de Outubro do ano 2011, sétimo de Pontificado.


BENEDICTUS PP. XVI








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[1] Homilia no início do ministério petrino do Bispo de Roma (24 de Abril de 2005): AAS 97 (2005), 710.
[2] Cf. Bento XVI, Homilia da Santa Missa no Terreiro do Paço (Lisboa – 11 de Maio de 2010): L’Osservatore Romano (ed. port. de 15/V/2010), 3.
[3] Cf. João Paulo II, Const. ap. Fidei depositum (11 de Outubro de 1992): AAS 86 (1994), 113-118.
[4] Cf. Relação final do Sínodo Extraordinário dos Bispos (7 de Dezembro de 1985), II, B, a, 4: L’Osservatore Romano (ed. port. de 22/XII/1985), 650.
[5] Paulo VI, Exort. ap. Petrum et Paulum Apostolos, no XIX centenário do martírio dos Apóstolos São Pedro e São Paulo (22 de Fevereiro de 1967): AAS 59 (1967), 196.
[6] Ibid.: o.c., 198.
[7] Paulo VI, Profissão Solene de Fé, Homilia durante a Concelebração por ocasião do XIX centenário do martírio dos Apóstolos São Pedro e São Paulo, no encerramento do «Ano da Fé» (30 de Junho de 1968): AAS 60 (1968), 433-445.
[8] Paulo VI, Audiência Geral (14 de Junho de 1967): Insegnamenti, V (1967), 801.
[9] João Paulo II, Carta ap. Novo millennio ineunte (6 de Janeiro de 2001), 57: AAS 93 (2001), 308.
[10] Discurso à Cúria Romana (22 de Dezembro de 2005): AAS 98 (2006), 52.
[11] Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 8.
[12] De utilitate credendi, 1, 2.
[13] Cf. Confissões, 1, 1.
[14] Conc. Ecum. Vat. II, Const. sobre a Sagrada Liturgia Sacrosanctum Concilium, 10.
[15] Cf. João Paulo II, Const. ap. Fidei depositum (11 de Outubro de 1992): AAS 86 (1994), 116.
[16] Santo Agostinho, Sermo 215, 1.
[17] Catecismo da Igreja Católica, 167.
[18] Cf. Conc. Ecum. Vat. I, Const. dogm. sobre a fé católica Dei Filius, cap. III: DS 3008-3009; Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. sobre a Revelação divina Dei Verbum, 5.
[19] Bento XVI, Discurso no «Collège des Bernardins» (Paris, 12 de Setembro de 2008): AAS 100 (2008), 722.
[20] Cf. Santo Agostinho, Confissões, 13, 1.
[21] Const. ap. Fidei depositum (11 de Outubro de 1992): AAS 86 (1994), 115 e 117.
[22] Cf. João Paulo II, Carta enc. Fides et ratio (14 de Setembro de 1998), 34.106: AAS 91 (1999), 31-32.86-87.

Fonte: Vatican.va

domingo, 16 de outubro de 2011

A formação do profissional docente
Artigo publicado na newsletter semanal +Educação
Revista Profissão Mestre: www.profissaomestre.com.br
16/10/2011





Quem é o profissional docente? Qual valor a sociedade está disposta a lhe atribuir? Qual o caráter de sua formação? A reestruturação da profissão docente bem como as novas formas de trabalho vem consolidar a introdução das políticas neoliberais na educação.
Sabe-se que não é só a escola a responsável pela formação de professores com qualidade. Há fatores externos a ela, como as políticas sociais inseridas no conjunto das políticas públicas, que resultam na redução progressiva de verbas e na desvalorização profissional e social do pessoal do magistério, além do empobrecimento da população e de suas conseqüências inevitáveis no rendimento escolar.
O professor não pode ser visto como o problema, mas como elemento imprescindível para a superação de parte dos problemas educacionais. Sendo assim, a formação de professores é um requisito fundamental para as transformações que se fazem necessárias na educação.
O professor deve construir expectativas em relação ao aluno, pois, na medida em que o trata como “pessoa”, considerando-o como ser global bem como os seus sentimentos e intensificando suas relações interpessoais de amizade, confiança, respeito, empatia e autenticidade, cria condições que favorecem a aprendizagem.
Através do professor, o aluno começa a compreender quem é ele mesmo, pois os outros são nossos espelhos. Porém, poucos são os alunos que podem se conhecer e são percebidos através do professor, pois muitas vezes esse professor não lhes dá a imagem refletida para que os educandos possam saber quem eles são.
Na perspectiva da teoria histórico-cultural, a aprendizagem escolar está centrada no conhecimento, no domínio dos saberes e instrumentos culturais disponíveis na sociedade e nos modos de pensar associados a esses saberes. Em contraste, todas as concepções de escola que desfocam esta centralidade podem estar incorrendo em risco de promover a exclusão social.
Sendo assim, a docência parece se encontrar num processo de transformação, em que o modelo tradicional de professor, apesar de considerado ultrapassado, ainda persiste no vocabulário docente, convivendo lado a lado com as novas concepções e propostas. Com efeito, observa-se, nos discursos dos sujeitos, a presença de elementos considerados indicadores de profissionalização associados a uma imagem caracteristicamente afetiva. Isto poderia ser considerado uma ambigüidade na estruturação de um novo modelo de professor. Por enquanto, concebe-se ainda o exercício da docência como profissão num contexto de relações interpessoais calcadas no afeto, sendo isso válido para ambos os sexos e para professores que atuam em escolas públicas e privadas. A concepção de docência que advirá dessa ambigüidade está relacionada com linhas mais gerais de projetos político-sociais que consigam a adesão na sociedade brasileira, valendo aprofundar a discussão sobre as concepções de professor presentes em nossa sociedade e que são internalizadas pelos docentes como seres sociais porque constituem momento necessário à compreensão de sua própria prática profissional.


Autora: Maria Inês de Souza Borges, gestora educacional, professora da rede estadual e docente do ensino superior em São Paulo.

sábado, 27 de agosto de 2011


Vivemos em um tempo de constantes mudanças, onde o que é atual perde seu caráter de novidade muito rápido, algo que nos leva a crer que é necessário se atualizar constantemente para se manter atraente e moderno. Esse mesmo processo acontece com as escolas, mas muitas parecem não acompanhar este ritmo, preferindo reeditar processos antiquados ao invés de se modernizar. O consultor Carlos W. Dorlass aborda esta aparente inércia do sistema educacional no texto abaixo.




A escola, a sala de aula e o professor





O sistema educacional passa por um período de inércia. Verificam-se repetições de um padrão que, num tempo não muito distante do atual, foi eficaz. Professores continuam executando o mesmo planejamento de décadas passadas, reutilizando estratégias de ensino, avaliações e metodologias, sem considerar que os tempos são outros, esquecendo que hoje a quantidade de informações e a velocidade como são transmitidas são muito maiores. O novo tem sido uma reedição do velho nas escolas.

O que se observa é que essa mera reprodução de velhos ritos escolares tem se voltado contra a própria escola. Os alunos têm se tornado cada vez menos motivados para as atividades propostas.
Sabe-se que as escolas são verdadeiras usinas de múltiplas inteligências, mas atualmente elas têm sido um local de repetição de padrões ultrapassados, sem que apresentem preocupações para mudar esse panorama - sem inovar!
É necessário acompanhar as mudanças e sair da zona de conforto. Os professores precisam se conscientizar de que as aulas precisam despertar o interesse dos alunos, procurar despertar neles a vontade de aprender, incentivar a participação individual no processo de ensino-aprendizagem, promover atividades que permitam que os alunos questionem, participem e opinem. O ensino não pode mais ser uma via de mão única. Quando se sentirem seguros e valorizados em suas opiniões, os alunos sairão das aulas com desejo de voltar, com sede de saber e muito mais preparados.
A escola que se diz transformadora (e que realmente desejar ser) deve transpor a barreira do conservadorismo, abandonar o paradigma de designar como indisciplina ou desrespeito as manifestações de “vida” e de opinião dos alunos.
Avaliando o papel da escola, conclui-se que ela deve ser o espaço para reflexão, para discussões entre a geração dos mais velhos com as gerações dos mais novos, e não dos que sabem mais com os que sabem menos. Onde não ocorrem discussões, não se pode chamar de sala de aula. Os professores que resistem em abandonar o velho padrão, que exige que a sala de aula seja um ambiente harmônico e disciplinado, muito pouco têm a ensinar.
O professor da era da informação deve estar preparado para promover discussões sobre os acertos e erros da humanidade, sobre valores, além de ser realmente capaz de ajudar a formar uma geração melhor do que a anterior.
Já não se pode mais admitir a presença do professor “PowerPoint”, que apenas repete o que está escrito. O professor "PowerPoint" se assemelha ao sistema de ensino apostilado, onde só se registra o mínimo necessário e fragmentando o conteúdo, sem correlacioná-los com outros assuntos e sem contextualizar e transpor para a realidade dos alunos.
Não se pode mais aceitar também que seja ensinado o básico. Urge formar cidadãos de valor e com qualidade. É preciso que o ensino seja abordado de maneira que prime pelo significado. A quantidade não garante a qualidade. A sala de aula tem que ser o lugar de exigência máxima e não mínima.
O professor deve estar atento e preocupado com o desenvolvimento pleno de seus alunos, com as suas presenças e ausências, sua saúde, com as exposições a situações de preconceitos, discriminação e violência. Deve ainda buscar atualizar-se constantemente, trocar experiências com demais professores da escola ou de outras instituições de ensino, ter disposição, paciência, calma para conversar, ouvir os alunos e famílias, estabelecendo com elas uma relação de atenção, proximidade e confiança.
Um bom professor deve ainda promover a compreensão do "porquê" e "para que" aprender sempre.

Carlos W. Dorlass é consultor educacional em empresas e instituições de ensino.


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sexta-feira, 26 de agosto de 2011




Vocação de Jeremias



Jeremias foi aquele escolhido de Deus desde sempre. Era de um povoado próximo a Jerusalém e de uma família sacerdotal. Era também solidário com o seu povo e certo do grande amor de Deus por ele. Deus o chamou desde o seio de sua mãe. Reconhece-se ‘seduzido’ pelo Senhor. Apesar de esquivar-se de sua missão, ele é fiel, mesmo reclamando de não ter idade para aquilo que o Senhor estava designando-o.



Jr 1,4-19







A vocação de Marta

Jesus indo em direção de Jerusalém entra numa aldeia e vai até a casa de duas amigas: Marta e Maria. Marta é uma mulher hospitaleira e acolhe Jesus m sua casa. Maria, sua irmã, por sua vez, senta aos pés de Jesus par escutá-lo. Diante dessa situação, Marta reclama a colaboração d irmã. Jesus diz a Marta: “Tu te preocupas e andas agitada com muitas coisas”. Essa atitude de Marta, amada e reprendida pelo Mestre, o qual não recusou os serviços de Marta, mas alertou-a que havia ‘algo’, mais importante, nos é apresentado que é muito estimável e necessário é fazer a vontade do Pai.


Lc 10, 38-42


quarta-feira, 17 de agosto de 2011




A vocação de Moisés





Moisés era pastor de ovelhas. Quando um dia, estava a pastorear as ovelhas do seu sogro, viu uma sarça ardente. Deus o chamou do meio da sarça: Moisés, Moisés!” E ele respondeu : “Aqui estou!”. Deus o escolheu para tirar o seu ovo da escravidão do Egito. Moisés respondeu na fé pura de seu coração. E a essa fé é que Deus se revela quem Ele é: “EU SOU AQUELE QUE SOU”.


Ex 3,1-15




A vocação da Samaritana

A Samaritana pertencia a uma população desprezada pelos judeus, devido a questões históricas e raciais. Jesus saiu da Judéia a caminho da Galileia e devia passa pela Samaria. Chegando nesta na cidade de Sicar, se encontra cansado e sentou-se na beira do poço de Jacó. Chega uma mulher que vem buscar água. E dá-se inicio a um diálogo entre Jesus e a Samaritana. É bom observar que os judeus não conversavam com os samaritanos. É Jesus quem pede: “Dá-me de beber”. Ela revela os conflitos interiores. Jesus continua o diálogo e ela aos pouco vai abrindo os olhos e o coração. Quando ela reconhece Jesus, deixa o cântaro e volta para o povoado, contundo tudo que tinha acontecido. Jesus permanece naquela cidade por dois dias.

Jo 4, 1-42

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Agosto mês das vocações




A palavra VOCAÇÃO vem do latim – vocare – que significa CHAMAR. Todo ser humano é chamado por Deus a viver, a conviver e a crescer espiritual e humanamente. Assim, vocação é oferta de Deus, resposta da pessoa e compromisso com Deus e com os irmãos.
Características da vocação:
• É uma escolha vivida 24 horas por dia,
• É única para cada pessoa,
• É serviço ao outro,
• É uma missão no Reino.

A pessoa humana pode ser chamada para participar da obra de Deus:
• No Casamento,
• Na Vida Laical,
• Na Vida Consagrada,
• Na Vida Sacerdotal.



A vocação de Abraão


Abraão era de idade avançada quando foi chamado por Deus. Ele já havia constituído uma família, era dono de alguns bens e servos. Diante de sua vida simples, o Senhor apresenta as suas intensões, o seu projeto dizendo: “Sai de tua terra!”. Abraão vai e começa a pertencer ao Senhor, ao Deus da vida. Não mede os seus esforços diante das exigências, pois sua fé e confiança em Deus ultrapassam todas as dificuldades.


Gn 12, 1-9; Gn 15,1-11; Gn 22,1-19



A vocação de Maria


O povo de Deus vivia esperando o Messias, anunciado e prometido pelos profetas. Mas, foi a uma jovem humilde e dedicada, que vivia na simplicidade dos afazeres, dos trabalhos cotidianos, a responsabilidade de gerar em seu ventre o Salvador. Ela era a filha de Joaquim e Ana, residente em Nazaré e noiva do carpinteiro de nome José. Através do Anjo Gabriel, ela recebe o convite de ser mãe do Verbo Encarnado. Diante dessa proposta ela sentiu medo, mas com muita coragem e disponibilidade responde: “Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a sua Palavra!”. Aos pés da cruz essa mãe sofre com a morte de seu amado Filho. Mas, é na cruz que ela recebe uma nova missão: tonar-se mãe de toda a humanidade.



LC 1,26-38; Jo 19,26-27

quarta-feira, 3 de agosto de 2011



D. Ettore Dotti, primeiro Bispo Diocese de Naviraí - MS









Na praça central Euclides Fabris, em frente à Igreja matriz, torno de dez mil pessoas participaram da celebração de posse de D. Ettore Dotti, primeiro Bispo Diocese de Naviraí.




A celebração teve a presença do Núncio Apostólico, de alguns Bispos do regional Oeste 1, do Paraná e da Bahia, de inúmeros padres da Nova diocese e da Congregação da Sagrada Família, seminaristas, fieis vindos das localidades onde Dom Etorre Dotti já passou (Jandira – SP, Assaí, Peabiru e Curitiba –PR, Serrinha – BA), de religiosas, da sua família italiana e do querido povo da Diocese, e algumas autoridades civis.


















































A Diocese de Naviraí é composta pelos seguintes municípios: Anaurilândia, Angélica, Bataguassu, Batayporã, Eldorado, Iguatemi, Itaquiraí, Ivinhema, Japorã, Jateí, Juti, Mundo Novo, NAVIRAÍ, Nova Andradina, Novo Horizonte do Sul, Paranhos, Sete Quedas, Tacuru e Taquarussu, totalizando 19 municípios. Ela é a sétima Diocese criada no Mato Grosso do Sul. Tem uma extensão de 35.138 quilômetros quadrados e nasce com uma população de 267.356 pessoas. Segundo dados estatísticos, em torno de 197 mil são católicos.

D. Ettore encontra em sua diocese as populações indígenas Guarani Kaiowá e os inúmeros acampamentos dos sem terra. O sistema de produção é baseado no agronegócio, nas grandes fazendas de gado e na monocultura mecanizada. Nas últimas décadas houve a expulsão dos agricultores para as cidades ou para os acampamentos à beira das estradas. Também é uma das regiões de expansão do setor agroindustrial-sucroalcooleiro.

A celebração, apesar da chuva, foi envolvida em um clima de oração, de alegria e de serenidade. No final, Dom Ettore Dotti dirigiu umas palavras aos seus diocesanos, e logo após foi no meio do povo para saudá-los.





PARABÉNS Dom Ettore Dotti!


PARABÉNS Naviraí!

sexta-feira, 15 de julho de 2011

O silêncio antipedagógico na biblioteca pública brasileira


Marcos Pereira dos Santos








Silêncio: essa parece ser a palavra que melhor retrata a situação caótica de grande parte das bibliotecas públicas brasileiras nos dias atuais. Caótica no sentido de um silenciamento quase sepulcral demonstrado por parte de autoridades governamentais, bibliotecários, pesquisadores, professores, alunos e demais leitores-usuários; dadas as condições praticamente surreais de zelo, atenção, cuidado, organização do acervo e utilização desse espaço cultural.
É fato que o advento das novas tecnologias de informação e comunicação, com sua enorme parafernália digital (correios eletrônicos, salas de bate-papo, chats, MSN, orkuts, twitters entre outros aparatos virtuais), embora necessárias à evolução do mundo contemporâneo, configuram-se como um dos principais fatores responsáveis pelo quase total abandono, desprezo e indiferença a que vem sendo submetidas muitas bibliotecas públicas brasileiras.




Todavia, é possível interromper a cerimônia fúnebre em cujo caixão ainda jaz a biblioteca pública no Brasil. Dizemos isto porque entendemos que, a exemplo dos países desenvolvidos, as bibliotecas públicas devem ser vistas como as responsáveis, em grande parte, pelo desenvolvimento de hábitos de leitura em crianças, adolescentes e jovens; bem como pela valorização da cultura humana e formação de leitores crítico-reflexivos realmente comprometidos com o avanço da ciência e o progresso da Nação.
Já a partir de 10 anos, vemos crianças já pré-adolescentes e quase 50% semi-alfabetizadas que não conseguem acompanhar a escola. Com muita liberdade e influência dos tais “amigos”, começam a ir mal na escola e deixam de frequentá-la. Preferem ficar com os tais “amigos” em shoppings, praças, etc. Nesta hora vem o convite para provar as novidades, sejam legais ou ilegais.
Enquanto defensores da causa das bibliotecas públicas brasileiras, acreditamos ser proveitoso utilizar o espaço físico das mesmas de forma qualitativa e didático-pedagógica e não, como ainda ocorre em muitos casos, principalmente em nível de escolarização básica, como um lugar de “castigo” destinado a alunos ditos indisciplinados que tem como “punição” copiar, de forma meramente mecânica, longos trechos de obras “receitadas” por seus professores em sala de aula; ou ainda, como verdadeiros depósitos de livros e outros materiais impressos, danificados ou não pela ação do tempo e, o que é pior, por mãos humanas insensatas. Acrescente-se a isso os casos de professores que, por motivos de doenças sérias, idade avançada ou estresse pedagógico, são remanejados de suas funções laborais docentes para ficarem “encostados” (no sentido literal do termo) em bibliotecas públicas, visto que erroneamente esta se configura como o melhor lugar para o “repouso profissional”, até que chegue a tão almejada aposentadoria.
Precisamos, pois, urgentemente recuperar o verdadeiro sentido da presença das bibliotecas públicas brasileiras no contexto da sociedade civil organizada: servir de espaço coletivo para a busca de informações e apropriação dos saberes historicamente acumulados. Mas, para tanto, faz-se necessário despertar-nos para a conscientização de sua importância, criando estratégias políticas e sócio-educativas que visem à utilização das bibliotecas públicas como locus de pesquisa, ensino e aprendizagem, isto é, uma espécie de laboratório onde seja possível (re)construir novos conhecimentos a partir dos já existentes.
Diante do exposto, desejamos bradar, o mais alto possível, nosso manifesto crítico contra todo tipo de descaso, omissão e/ou negligência consentida em relação às bibliotecas públicas brasileiras e, por isso, conclamamos: basta de silêncio! Precisamos lutar fervorosamente em favor da revitalização, adequação, conservação e utilização das bibliotecas públicas como espaço educativo de apreensão do saber historicamente construído e patrimônio cultural da humanidade. Não podemos perder mais tempo. A hora é agora! Vamos começar por nós?




Marcos Pereira dos Santos é mestre em Educação pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) e professor Auxiliar da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) – Campus Ponta Grossa

Jornal Virtual 223 – 15072011
Ano 9 - Nº 223-15/07/2011
www.humanaeditorial.com.br

terça-feira, 28 de junho de 2011

quinta-feira, 23 de junho de 2011

A festa de Corpus Christi na Paróquia de Santo Inácio e Santa Paula.




Na madrugada de hoje, por volta das 5h30, os paroquianos de Santo Inácio Mártir e Santa Paula Elizabete Cerioli, enfeitaram a rua com os tapetes para a passagem do Cristo Eucarístico.





As pastorais procuram com os seus símbolos agradecer ao Senhor pelo trabalho evangelizador.











Estiveram presentes para alegrar esse momento e expressar a sua fé, muitos jovens,





crianças,













adultos,




homens




e mulheres.




Os nossos seminaristas,




os padres Adriano e Gerolamo, alegraram muito todo o trabalho.













Um singelo agradecimento ao Senhor, feito pelo Seminário e paroquianos, foi para o mais novo Bispo da Congregação da Sagrada Família: D. Ettore Dotti, através da confecção de um tapete com o seu brasão.




Após os tapetes preparados, deu-se início a Celebração Eucarística. Ao final houve uma procissão por algumas ruas do bairro,






chegando até a rua onde estavam os lindos tapetes preparados para o Senhor. O pe. Gerolamo encerrou esse momento tão marcante, com a benção do Santíssimo.





A todos os participantes o nosso muito obrigado!