Segunda leitura
Dos Livros das Confissões, de Santo
Agostinho, bispo
(Lib. 7,10.18;10,27: CSEL
33,157-163.255)
(Séc.V)
Ó
eterna verdade e verdadeira caridade
e
cara eternidade!
Instigado
a voltar a mim mesmo, entrei em meu íntimo, sob tua guia e o consegui, porque
tu te fizeste meu auxílio (cf. Sl 29,11). Entrei e com certo olhar da
alma, acima do olhar comum da alma, acima de minha mente, vi a luz imutável.
Não era como a luz terena e evidente para todo ser humano. Diria muito pouco se
afirmasse que era apenas uma luz muito, muito mais brilhante do que a comum, ou
tão intensa que penetrava todas as coisas. Não era assim, mas outra coisa,
inteiramente diferente de tudo isto. Também não estava acima de minha mente
como óleo sobre a água nem como o céu sobre a terra, mas mais alta, porque ela
me fez, e eu, mais baixo, porque feito por ela. Quem conhece a verdade, conhece
esta luz.
Ó
eterna verdade e verdadeira caridade e cara eternidade! Tu és o meu Deus, por
ti suspiro dia e noite. Desde que te conheci, tu me elevaste para ver que quem
eu via, era, e eu, que via, ainda não era. E reverberaste sobre a mesquinhez de
minha pessoa, irradiando sobre mim com toda a força. E eu tremia de amor e de
horror. Vi-me longe de ti, no país da dessemelhança, como que ouvindo tua voz
lá do alto: “Eu sou o alimento dos grandes. Cresce e me comerás. Não me mudarás
em ti como o alimento de teu corpo, mas tu te mudarás em mim”.
E
eu procurava o meio de obter forças, para tornar-me idôneo a te degustar e não
o encontrava até que abracei o mediador entre Deus e os homens, o homem
Cristo Jesus (1Tm 2,5), que é Deus acima de tudo, bendito
pelos séculos (Rm 9,5). Ele me chamava e dizia: Eu sou o
caminho, a verdade e a vida (Jo 14,6). E o alimento que eu não era
capaz de tomar se uniu à minha carne, pois o Verbo se fez carne (Jo
1,14), para dar à nossa infância o leite de tua sabedoria, pela qual tudo
criaste.
Tarde
te amei, ó beleza tão antiga e tão nova, tarde te amei! Eis que estavas dentro
e eu, fora. E aí te procurava e lançava-me nada belo ante a beleza que tu
criaste. Estavas comigo e eu não contigo. Seguravam-me longe de ti as coisas
que não existiriam, se não existissem em ti. Chamaste, clamaste e rompeste
minha surdez, brilhaste, resplandeceste e afugentaste minha cegueira. Exalaste
perfume e respirei. Agora anelo por ti. Provei-te, e tenho fome e sede.
Tocaste-me e ardi por tua paz.
Responsório
R. Ó
luz e verdade do meu coração,
que as trevas em mim não gritem mais
alto!
* Errei,
mas voltei, lembrei-me de vós.
Eis que volto à fonte, cansado e
sedento.
V. Não
sou eu minha vida, pois por mim vivi mal;
mas em vós eu renasço.
* Errei, mas voltei, lembrei-me de vós.
Eis que volto à fonte, cansado e sedento.