Caminho espiritual – Advento 2012
Advento, em latim adventos, significa, no sentido cristão, o dia da visita, o dia do
Senhor. Assim, o tempo do advento tem como característica a preparação.
Primeiro, para a comunicação da primeira vinda do Filho de Deus entre os
homens, e, em segundo, a preparação dos corações para a expectativa da segunda
visita do Senhor no fim dos tempos. Por isso que se pode entender o sentido do
advento como “fim” quanto “começo”, segundo a Ione Buyst. O tempo do advento
convida a avaliar a realidade da vida, do caminho cristão e perceber qual o
tempo que se está dedicando a Deus, para que no final deste tempo se possa
proclamar como fez o salmista: “minha alma aguarda o Senhor mais que os guardas
pela aurora” (Sl 130,6).
Primeiro Domingo do Advento – 02/12
Evangelho
Lc, 21, 25-28.34-36
25 Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas. Na terra a aflição e a
angústia apoderar-se-ão das nações pelo bramido do mar e das ondas. 26 Os
homens definharão de medo, na expectativa dos males que devem sobrevir a toda a
terra. As próprias forças dos céus serão abaladas. 27 Então verão o Filho do
Homem vir sobre uma nuvem com grande glória e majestade. 28 Quando começarem a
acontecer estas coisas, reanimai-vos e levantai as vossas cabeças; porque se
aproxima a vossa libertação. 34 Velai sobre vós mesmos, para que os vossos
corações não se tornem pesados com o excesso do comer, com a embriaguez e com
as preocupações da vida; para que aquele dia não vos apanhe de improviso. 35
Como um laço cairá sobre aqueles que habitam a face de toda a terra. 36 Vigiai,
pois, em todo o tempo e orai, a fim de que vos torneis dignos de escapar a
todos estes males que hão de acontecer, e de vos apresentar de pé diante do
Filho do Homem.
Reflexão / comentário
O advento é um convite a meditar sobre o milagre da vinda do Senhor, a
encarnação do Menino Deus. Cristo é o nosso Salvador, que nos conhece por
inteiro, toca o nosso coração e nos quer preparar para a sua constante vinda. É
Aquele que espera de cada um de nós uma atitude de vigilância e de esperança. Se
nos momentos de turbulências o nosso coração, o nosso amor a vida e a Deus, são
abalados, é um sinal que precisamos fortalecê-lo um pouco mais na graça, na
escuta e na caridade de Deus. Se a nossa vida for alicerçada na fé, na caridade
e na santidade, resistiremos entusiasmados na construção dinâmica do Reino.
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Escutar
Concílio vaticano II
“Com efeito, o próprio Verbo de Deus, por quem tudo foi feito, fez-se
homem, para, homem perfeito, a todos salvar e tudo recapitular. O Senhor é o
fim da história humana, o ponto para onde tendem os desejos da história e da
civilização, o centro do género humano, a alegria de todos os corações e a
plenitude das suas aspirações (25). Foi Ele que o Pai ressuscitou dos mortos,
exaltou e colocou à sua direita, estabelecendo-o juiz dos vivos e dos mortos.
Vivificados e reunidos no seu Espírito, caminhamos em direcção à consumação da
história humana, a qual corresponde plenamente ao seu desígnio de amor:
«recapitular todas as coisas em Cristo, tanto as do céu como as da terra» (Ef.
1,10)”. (GAUDIUM ET SPES, 45 )
Oração
Ó Deus todo-poderoso, concedei-nos a vossos fiéis o ardente desejo de
possuir o reino celeste, para que, acorrendo com as nossas boas obras ao
encontro do Cristo que vem, sejamos reunidos à sua direita na comunidade dos
justos. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito
Santo. (Liturgia
das Horas, Primeiro Domingo do Advento, p. 117)
Segundo Domingo do Advento – 09/12
Evangelho
Lc 3,1-6
1 No ano décimo quinto do reinado do imperador Tibério, sendo Pôncio
Pilatos governador da Judéia, Herodes tetrarca da Galiléia, seu irmão Filipe
tetrarca da Ituréia e da província de Traconites, e Lisânias tetrarca da
Abilina, 2 sendo sumos sacerdotes Anás e Caifás, veio a palavra do Senhor no deserto
a João, filho de Zacarias. 3 Ele percorria toda a região do Jordão, pregando o
batismo de arrependimento para remissão dos pecados, 4 como está escrito no
livro das palavras do profeta Isaías (40,3ss.): Uma voz clama no deserto:
Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas. 5 Todo vale será
aterrado, e todo monte e outeiro serão arrasados; tornar-se-á direito o que
estiver torto, e os caminhos escabrosos serão aplainados. 6 Todo homem verá a
salvação de Deus.
Reflexao / comentário
A história da salvação adentra, caminha e transforma a história humana. Esta
é a impressão que temos ao meditar este trecho bíblico de Lucas. Esta salvação
é, primeiramente, experimentada por João Batista no deserto. É no deserto que
conseguiremos nos desapegar das preocupações que não deixam encontrar o Menino.
Olhando o deserto, seja como espaço geográfico, seja como espaço espiritual,
percebemos o seu significado ligado ao silêncio, luta contra as próprias
vontades e aos inimigos da alma, escuta atenta a Palavra de Deus e um convite
para fixar o nossos olhos em Jesus. João nos ensina a ter afeto, a amar o
deserto, para depois poder ressoar a Palavra, para que a nossa vida possa tornar-se
a voz de uma palavra: Cristo.
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Desapegar
Concílio vaticano II
“Deus, criando e conservando todas as coisas pelo Verbo (cfr. Jo. 1,3),
oferece aos homens um testemunho perene de Si mesmo na criação (cfr. Rom. 1,
1-20) e, além disso, decidindo abrir o caminho da salvação sobrenatural,
manifestou-se a Si mesmo, desde o princípio, aos nossos primeiros pais. Depois
da sua queda, com a promessa de redenção, deu-lhes a esperança da salvação
(cfr. Gén. 3,15), e cuidou contìnuamente do género humano, para dar a vida
eterna a todos aqueles que, perseverando na prática das boas obras, procuram a
salvação (cfr. Rom. 2, 6-7). No devido tempo chamou Abraão, para fazer dele pai
dum grande povo (cfr. Gén. 12,2), povo que, depois dos patriarcas, ele
instruiu, por meio de Moisés e dos profetas, para que o reconhecessem como
único Deus vivo e verdadeiro, pai providente e juiz justo, e para que
esperassem o Salvador prometido; assim preparou Deus através dos tempos o
caminho ao Evangelho.” (DEI VERBUM, 3)
Oração
Ó Deus todo-poderoso e cheio de misericórdia, nós vos pedimos que nenhuma atividade
terrena nos impeça de correr ao encontro do vosso Filho, mas, instruídos pela
vossa sabedoria, participemos da plenitude de sua vida. Por nosso Senhor Jesus
Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. (Liturgia das Horas, Segundo Domingo
do Advento, p. 171)
Terceiro Domingo do Advento – 16/12
Evangelho
Lc 3,10-18
10 Perguntava-lhe a multidão: Que devemos fazer? 11 Ele respondia: Quem tem
duas túnicas dê uma ao que não tem; e quem tem o que comer, faça o mesmo. 12
Também publicanos vieram para ser batizados, e perguntaram-lhe: Mestre, que
devemos fazer? 13 Ele lhes respondeu: Não exijais mais do que vos foi ordenado.
14 Do mesmo modo, os soldados lhe perguntavam: E nós, que devemos fazer?
Respondeu-lhes: Não pratiqueis violência nem defraudeis a ninguém, e
contentai-vos com o vosso soldo. 15 Ora, como o povo estivesse na expectativa,
e como todos perguntassem em seus corações se talvez João fosse o Cristo, 16
ele tomou a palavra, dizendo a todos: Eu vos batizo na água, mas eis que vem
outro mais poderoso do que eu, a quem não sou digno de lhe desatar a correia
das sandálias; ele vos batizará no Espírito Santo e no fogo. 17 Ele tem a pá na
mão e limpará a sua eira, e recolherá o trigo ao seu celeiro, mas queimará as
palhas num fogo inextinguível. 18 É assim que ele anunciava ao povo a boa nova,
e dirigia-lhe ainda muitas outras exortações.
Reflexao / comentário
“O que devemos fazer?” Esta é a pergunta que motiva o discurso ético na
pregação de João Batista e também deve ser a pergunta que deve nortear o nosso
caminho humano-espiritual neste período do Advento. A Palavra de Deus nos
convida a alegrar-nos no testemunho cristão. A nossa alegria só será verdadeira
se nascer de uma experiência de relações alicerçadas na justiça, na paz, na
dignidade, na alteridade, na comunhão com Senhor Jesus, na conversão do coração
e da vida, do viver sóbrio, para não deixar escapar a lógica do consumismo e do
desperdício, e no esforço de encontrar a medida – atitude justa para cada pessoa
que encontramos e convivemos.
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Procurar
Concílio vaticano II
“Não há verdadeiro ecumenismo sem conversão interior. É que os anseios de
unidade nascem e amadurecem a partir da renovação da mente (24), da abnegação
de si mesmo e da libérrima efusão da caridade. Por isso, devemos implorar do
Espírito divino a graça da sincera abnegação, humildade e mansidão em servir, e
da fraterna generosidade para com os outros. «Portanto - diz o Apóstolo das
gentes - eu, prisioneiro no Senhor, vos rogo que vivais de modo digno da
vocação a que fostes chamados, com toda a humildade e mansidão, com paciência,
suportando-vos uns aos outros em caridade, e esforçando-vos solicitamente por
conservar a unidade do Espírito no vínculo da paz» (Ef. 4, 1-3).” (UNITATIS
REDINTEGRATIO, 7)
Oração
Ó Deus de bondade, que vedes o vosso povo esperando fervoroso o natal do Senhor,
dai-nos chegar às alegrias da Salvação e celebrá-las sempre com intenso júbilo
na solene liturgia. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do
Espírito Santo. (Liturgia das Horas, Terceiro Domingo do Advento, p. 227)
Quarto Domingo do Advento – 23/12
Evangelho
Lc 1,39-46
39 Naqueles dias, Maria se levantou e foi às pressas às montanhas, a uma
cidade de Judá. 40 Entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel. 41 Ora, apenas
Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança estremeceu no seu seio; e Isabel
ficou cheia do Espírito Santo. 42 E exclamou em alta voz: Bendita és tu entre
as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre. 43 Donde me vem esta honra de
vir a mim a mãe de meu Senhor? 44 Pois assim que a voz de tua saudação chegou
aos meus ouvidos, a criança estremeceu de alegria no meu seio. 45
Bem-aventurada és tu que creste, pois se hão de cumprir as coisas que da parte
do Senhor te foram ditas!
Reflexao / comentário
Lucas dá uma atenção especial a visita de Maria a sua prima Isabel. Neste
encontro de duas mães, de duas crianças, temos um gesto, uma atitude de
acolhida. Maria é acolhida por Isabel com alegria, assim também é Jesus
acolhido por João Batista, o qual pula e festeja no ventre materno a visita do
Salvador. Maria e Isabel partilham, com alegria, o que Deus está realizando em
suas vidas. Elas nos ensinam a acolher a realização de Deus: “Eis que venho, ó
Senhor, para fazer a tua vontade” (Sl 39,7ss).
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Acolher
Concílio vaticano II
“Mas o Pai das misericórdias quis que a aceitação, por parte da que Ele
predestinara para mãe, precedesse a encarnação, para que, assim como uma mulher
contribuiu para a morte, também outra mulher contribuisse para a vida. É o que
se verifica de modo sublime na Mãe de Jesus, dando à luz do mundo a própria
Vida, que tudo renova. Deus adornou-a com dons dignos de uma tão grande missão;
e, por isso, não é de admirar que os santos Padres chamem com frequência à Mãe
de Deus «toda santa» e «imune de toda a mancha de pecado», visto que o próprio
Espírito Santo a modelou e d'Ela fez uma nova criatura (175). Enriquecida,
desde o primeiro instante da sua conceição, com os esplendores duma santidade
singular, a Virgem de Nazaré é saudada pelo Anjo, da parte de Deus, como «cheia
de graça» (cfr. Luc. 1,28); e responde ao mensageiro celeste: «eis a escrava do
Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra» (Luc. 1,38). Deste modo, Maria,
filha de Adão, dando o seu consentimento à palavra divina, tornou-se Mãe de
Jesus e, não retida por qualquer pecado, abraçou de todo o coração o desígnio
salvador de Deus, consagrou-se totalmente, como escrava do Senhor, à pessoa e à
obra de seu Filho, subordinada a Ele e juntamente com Ele, servindo pela graça
de Deus omnipotente o mistério da Redenção. por isso, consideram com razão os
santos Padres que Maria não foi utilizada por Deus como instrumento meramente
passivo, mas que cooperou livremente, pela sua fé e obediência, na salvação dos
homens.” (LUMEN GENTIUM, 56)
Oração
Derramai ó Deus a vossa graça em nossos corações, para que, conhecendo pela
mensagem do Anjo a encarnação do vosso Filho, cheguemos, por sua paixão e cruz,
à glória da ressurreição. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na
unidade do Espírito Santo. (Liturgia das Horas, Quarto Domingo do Advento, p. 273).
Maran atha!